TJ diz que ex-diretor e irmão tentavam ‘esconder’ Paulo Taques

O desembargador do Tribunal de Justiça (TJ), José Zuquim Nogueira, afirmou que o ex-diretor da EIG Mercados, José Kobori, e o advogado Pedro Zamar Taques tinham a função de “esconder” a participação do ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, no esquema executado no Departamento de Trânsito (Detran).

O trio foi preso durante a Operação Bônus, 2ª fase da Operação Bereré, deflagrada nesta quarta-feira (9) pelo Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e pelo Núcleo de Ações de Competência Originária (Naco-Criminal).

Além dos 3, foram cumpridos outros 3 mandados de prisão preventiva e 5 de busca e apreensão em Cuiabá, São Paulo e Brasília. As prisões foram determinadas pelo desembargador.

De acordo com José Zuquim, as provas juntadas na denúncia do Ministério Público do Estado (MPE) demonstraram que tanto Kobori, quanto Pedro Zamar Taques, agiam juntos para esconder a participação no esquema que teria desviado cerca de R$ 27,7 milhões de 2009 a 2015. Inclusive, Kobori foi o responsável por acordar com Paulo Taques a continuidade do esquema no Detran na atual gestão do Governo do Estado (a partir de janeiro de 2015).

Segundo inquérito do Gaeco, ficou acordado, em contrato feito um dia após a vitória de Pedro Taques (PSDB) em 2014, que o pagamento da propina seria feito via escritório de advocacia que Paulo Taques tem em sociedade com seu irmão, Pedro Zamar. Os dois são primos do governador Pedro Taques.

Apesar do pagamento da propina não ter sido feito via escritório, uma vez que o empresário José Ferreira Gonçalves Neto preferiu repassar o dinheiro para Kobori entregar a Paulo Taques, teriam sido pagos cerca de R$ 2,6 milhões entre 2015 e 2016.

“Este [Paulo Taques] somente faz contato direto com Pedro Jorge ou com Valter Kobori para tratar a respeito dos pagamentos de propina pela EIG Mercados, assim como as ligações são feitas pelo aplicativo do Whatssap, a fim de evitar interceptação telefônica, tudo com a finalidade de frustrar a produção de provas que demonstrem claramente suas atividades ilícitas”, diz trecho da decisão.

Ainda segundo o desembargador, Paulo Taques se valeu da proximidade com o governador para perpetrar os crimes, afirmando ter influência no governo, bem como usou de mensagens e ligações pelo aplicativo Whatsapp para ocultar sua participação no esquema e impedir a produção de provas que “demonstrem claramente suas atividades ilícitas”.

Além disso, o próprio Kobori também teria “dado cabo” em documentos da EIG Mercados. Por este motivo, o desembargador apontou que ambos “têm por natural em sua atuação a turbação da verdade dos fatos”.

“Suas atividades se desenvolvem pelo forjamento de documentos inverídicos, seja pelo substabelecimento que justificaria serviços advocatíçios que não seriam prestados ou seriam faturados, seja pela criação de verba trabalhista pautada em fato gerador inexistente, tudo com a finalidade de impedir a descoberta da verdade sobre os fatos, ou seja, prejudicarem a investigação criminal e a instrução processual penal”.

Em razão disso, o desembargador entendeu que a prisão dos 3 envolvidos eram necessárias para “a garantia da investigação criminal e da futura instrução processual penal“, já que eles tiveram “uma atuação ardilosa voltada à obstar a produção de prova e a habitualidade verificada”.

“Demonstra que Paulo Cesar Zamar Taques, Pedro Jorge Zamar Taques e Valter José Kobori têm a atividade criminosa como habitual, bem corno é pertinente às suas condições pessoais, todos detentores de poder econômico e de fato necessários para turbar os trabalhos investigativos, acrescendo-se, em relação a Paulo Cesar Zamar Taques o poder político decorrente da próxima ligação familiar com o Governador do Estado”.

Além da prisão dos 3, foram presos preventivamente os empresários Roque Anildo Reinheimer e Claudemir Pereira dos Santos, vulgo “Grilo”.