"> Todo lado ruim tem seu lado bom – CanalMT

Todo lado ruim tem seu lado bom

Estava refletindo, mesmo à distância, sobre o que fizeram com as escadarias de Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.

Uma obra polemica desde sua construção.

Lembro-me bem da antiga Matriz, como lembro-me também de sua demolição, que, com o argumento de estar caindo, precisou até de dinamite para derrubá-laa, pois morava ali na praça Alencastro, no Maria Joaquina, e assisti a tudo, da minha janela.

Não quero aqui fazer qualquer julgamento sobre o fato ocorrido. Mas esta que construíram no lugar da antiga Matriz é a que temos. Quer gostemos ou não do seu estilo, é uma obra de arquitetura que exigiu projeto para sua construção .

O autor da obra a concebeu em sua totalidade do grande mosaico, o qual eu meu irmão e muitos cuiabanos ajudamos a colar as pastilhas em pedaços de tecido para sua montagem, até as escadarias, que dava um equilíbrio a obra por ser ela muito alta.

Não sou arquiteto, mas, para fazer esta reflexão, me coloco no lugar do autor da obra, para então fazer alguns questionamentos.

Como ele se sentiria ao ver seu trabalho mutilado? Será que ele teria aprovado esta obra?

Gostaria de saber dos autores do projeto que mutilou a fachada do templo, sim, porque o que fizeram foi uma brutal intervenção em uma obra de arquitetura sem sequer levar em consideração ou respeito ao autor do projeto ou os responsáveis pela sua elaboração, ou qualquer consulta a comunidade.

Será que os senhores arquitetos gostariam de ver algumas de suas obras descaracterizadas por outros profissionais, sem pelo menos ouvi-los?

Aí, em nome de uma pseudo-acessibilidade, ou seja lá qual  fosse  a justificativa usada para fazê-la, será que ficariam satisfeitos?

Como aprendemos com a doutrina católica, a Igreja é uma comunidade de fiéis. Além de ser a casa de Deus, é também a casa dos fiéis, que a mantêm com o dízimo.

Tomar uma decisão como essa sem sequer ouvir a comunidade foi um ato no mínimo truculento, arbitrário e descabido. Ou os fiéis só servem para pagar o dízimo?

Na minha concepção, comunidade é o lugar onde todos participam, inclusive, sendo ouvidos, o que não aconteceu.

Então, resolveu se fazer e ai fizeram e deu no que deu…

Entendo que deveria ser ouvidos o maior numero passível de profissionais de Arquitetura, para que se chegasse à melhor opção para a execução da obra.

Em conversa com  alguns profissionais do ramo, ouvi varias sugestões bem mais inteligentes que a tomada pelo grupo que se achou no direito de mexer, ao seu bel prazer, num bem religioso cultural, que, além de pertencer à sociedade cuiabana e aos fiéis que frequentam e a mantém e que se manifestam através das redes sociais, o seu flagrante descontentamento pelo resultado desastroso e que lá esta para o julgamento de todos.

Será que as procissões vão ter a mesma beleza saindo espremida pela lateral? E como entrarão as noivas em seus sonhados casamentos?

Enfim, está lá feita a obra para o julgamento da sociedade cuiabana, que já sofre tanto com a degradação de seu patrimônio histórico arquitetônico.

Tem um ditado popular que diz que “todo lado ruim tem seu lado bom”, e o lado bom dessa obra é mostrar a todos que, quanto mais cabeças pensando juntas, o resultado é bem melhor.

Mostra também que a transparência é a forma mais inteligente de se administrar mesmo uma igreja.

Ouvir as diversas opiniões, além de saudável, é democrático, quando se trata de um bem comunitário, e evitaria esse desgaste desnecessário.

Porque, afinal de contas, a casa de Deus é também de seus fiéis e eles merecem ser respeitados.

Lembrando que a atual administração é passageira e a Catedral é eterna, que a humildade  de ouvir é um preceito evangélico.

E, por derradeiro, fica aqui esta reflexão de um cuiabano, devoto do senhor Bom Jesus de Cuiabá, e também da grande maioria dos descontentes que se manifestaram das mais variadas formas nas redes sociais, que se sentiram atingidos por esse ato refratário à lucidez, da mutilação da entrada principal do maior templo religioso da cidade.

A esperança de todos nós os descontentes é que a pressão democrática da opinião publica faça voltar a escadaria original, de acordo com a concepção primeira do autor da obra, para alegria de todos os frequentadores desse templo que pertence a todo povo de Deus.

RENATO RAMOS CALHAO é advogado em Cuiabá, membro do “Senadinho”.


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