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Bolsonaro: uma questão de fé

O jornal Folha de S.Paulo fez sucessivas reportagens nos últimos dias sobre o deputado e possível candidato a presidência Jair Bolsonaro, confirmando com dados concretos aquilo que sempre pareceu óbvio: ele é uma farsa em todos os sentidos, especialmente com seu discurso de retidão e moralidade.

Porém, engana-se quem pensa que escancarar a falta de ética, postura e caráter deste senhor racista e homofóbico – além da visível incompetência e ignorância para gerir sequer um mercadinho de bairro – terá qualquer impacto em suas dezenas de milhões de eleitores.

Bolsonaro se consolidou como mito/ídolo entre seus seguidores, que não são movidos pela razão, e sim pela fé. Se esforçar em evidenciar para seus “fiéis” que ele é apenas mais um político porqueira é tão inútil quanto um ateu tentar desconverter um cristão mostrando as centenas de contradições da Bíblia. Sempre haverá subterfúgios, comparações descabidas, e a síndrome da perseguição contra o “Deus” que ambos veneram.

Os sucessivos anos de crise, corrupção desenfreada, desemprego, perda de direitos e insegurança econômica só pioram a situação. Assim como boa parte dos recém fiéis cristãos, que passam a frequentar a Igreja porque a vida está muito ruim e Deus passa a ser a única e mais poderosa ferramenta para ajuda-los, o brasileiro comum também sente a necessidade de ter um ídolo em quem depositar suas esperanças de um futuro melhor, mediante tantas desgraças.

 Nessas condições, da mesma forma que se acredita que Deus pode curar doenças, trazer emprego e resolver problemas amorosos num passe de mágica, também se passa a crer que o ídolo político trará melhorias revolucionárias e grandiosas, igualmente em um estalar de dedos.

 Se há crença de que para operar milagres Deus pode burlar as leis da Física que ele mesmo criou, não causa espanto que os “bolsominions” acreditem piamente que seu líder vai transformar o país sozinho, como se não houvesse a mínima necessidade de governabilidade, conhecimento estratégico, sensibilidade e articulação com os demais poderes.

 Outro fator considerável é o discurso fácil e certeiro desse pré-candidato, focando sua agenda na trilogia ideológica mais usual e eficaz entre o eleitorado, segundo o analista Elcias Lustosa: Deus, Pátria e Família. Não é porque temos 12 milhões de desempregados que precisamos falar de economia, não é mesmo? Quem se importa? Vamos falar do que a sociedade gosta de debater e que dá ibope. Porte de arma, redução da maioridade penal, aborto, homossexuais, Deus e maconha.

 Com tais falácias, Bolsonaro diz o que o povo quer ouvir e faz de tudo para parecer que não é um político, mas sim um representante das pessoas de bem, técnica que funciona em tempos em que a política é demonizada. Desempenha tão exemplarmente este papel que, de fato, pela pífia atuação como parlamentar nas últimas décadas, é difícil acreditar que tenha agido como político, exceto na hora de receber todos os benefícios legais – mas nem todos morais – do cargo.

 A eleição deste ano, mais do que nunca, vai ser decidida não por ideologias, metas de governo ou propostas, mas pela fé. E, infelizmente, lutar contra a fé é lutar no escuro.

 LUCAS RODRIGUES é jornalista.


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