"> Mais um outubro rosa – CanalMT

Mais um outubro rosa

Estamos iniciando mais um Outubro Rosa para relembrar a todas as mulheres e todos os homens que este mês é dedicado à prevenção do câncer de mama que anualmente, por falta de informações, pelo sucateamento da saúde pública e pela falta de médico, outros profissionais de saúde e mamógrafos, em um país dominado pela corrupção que destrói não apenas a saúde pública, mas todas as instituições e níveis de poder e também as esperanças do povo, acabam ceifando dezenas de milhares de vidas preciosas, ainda jovens a cada ano.

De acordo com dados e alertas da Organização Mundial da Saúde, a OMS, no Brasil, entre os anos de 2000 e 2015, houve um aumento de 31% do número de mortes por câncer, que já é a segunda causa de morte em nosso país, atrás apenas das mortes por doenças cardiovasculares.

Por não disporem de recursos financeiros e nem planos privados de saúde, a imensa maioria dessas vítimas são mulheres pobres, das periferias urbanas e da zona rural que contam apenas com o SUS e alguns hospitais filantrópicos para serem atendidas. Na grande maioria dos municípios brasileiros a rede de saúde pública não conta sequer com um mamógrafo e em muitas unidades de saúde pública, quando existem mamógrafos eles estão estragados e de nada servem quando se trata de diagnosticar o câncer. As filas são enormes e muitas mulheres depois de viajarem centenas de km não são atendidas.

Isto significa na prática uma pena capital, ou seja, milhares de mulheres são condenadas à morte pelo descaso de uma saúde pública que não funciona. Enquanto isso gestores e políticos corruptos continuam roubando os cofres públicos e enganando o povo, contribuindo de forma direta para o caos em que vive o SUS no Brasil.

Em 2000 morreram 152 mil pessoas com câncer no Brasil e em 2015 foram 223,4 mil mortes po câncer; com destaque para Câncer do pulmão e do aparelho respiratório com 28,4 mil mortes, seguindo-se câncer colo/retal com 19,0 mil e em terceiro lugar câncer de mama com 18,0 mil mortes. Entre o ano de 2000 e o final deste ano de 2017 as estimativas indicam que as mortes por câncer de mama no Brasil deverão ser um pouco mais de 300 mil, cujas vítimas em sua imensa maioria tem menos de 65 anos de idade, mortes consideradas prematuras e passíveis de ser evitadas.

No caso das mortes de mulheres por todos os tipos de câncer a cada ano é dezenas de vezes o número de mulheres assassinadas, isto significa que esta é uma das ou talvez a maior violência contra as mulheres.

Considerando que do total de mortes por câncer no Brasil as mulheres representam 53%, em 2015 os vários tipos de câncer vitimaram nada menos do que 118,4 mil mulheres, para 2016 este número passa para pouco mais de 120 mil e para o corrente ano deverá ultrapassar a mais de 123,5 mil mulheres mortas vítima de câncer, praticamente o triplo de todos os assassinatos no Brasil.

No entanto, como é uma violência difusa, pouca atenção e indignação tem sido demonstradas neste aspecto, tanto por parte da mídia quanto dos movimentos que têm na defesa das mulheres e da cidadania seu foco de ação e atenção. Algo precisa mudar neste aspecto, não podemos nos calar ante tamanha violência.

No mundo morreram em 2015 nada menos do que 8,8 milhões de pessoas com câncer, um aumento de 27,5 em relação ao ano 2000 quando as mortes por câncer atingiram 6, 9 milhões de pessoas. O custo com o diagnóstico e tratamento de câncer é estimado em R$363,6 mil reais , totalizando em torno de US$1,1 trilhões de dólares, o que significa um grande impacto nos recursos públicos destinados à saúde, bem como sobre planos e seguros de saúde e as finanças pessoais ou familiares, cujos membros venham a se defrontar com esta terrível doença.

Isto demonstra a importância das medidas preventivas, os diagnósticos precoces e as mudanças de hábitos e estilo de vida, reduzindo a incidência da doença ou identificando-a precocemente, quando o tratamento é menos oneroso e a cura muito maior.

Mas para que isto aconteça cada país precisa ter uma política de saúde pública bem elaborada e serviços públicos de saúde de qualidade, com profissionais nesta área, como nas demais, bem como equipamentos e outros recursos fundamentais para que a saúde da população seja realmente um direito universal e não arremedos de saúde pública, como acontece no Brasil, onde o SUS está a cada dia e a cada ano totalmente estrangulado, enfim, um caos.

Diante, desta realidade, é fundamental que a população tenha consciência e seja despertada para a gravidade do câncer em geral e do câncer de mama em particular. Vamos lutar para que todas as mulheres entre 40 e 65 anos possam realizar anualmente suas mamografias e também para que as mulheres que já tenham sido ou venham a ser diagnosticadas com câncer de mama ou outro tipo de câncer, tenham o direito de se prevenirem e, também, ser submetidas ao tratamento adequado, reduzindo tantas mortes prematuras e muito sofrimento para essas vítimas e seus familiares.

Neste sentido, o Outubro Rosa é um mês dedicado à luta pela vida, a luta pela dignidade das mulheres, de quem esteja ou vier a ser diagnosticada com câncer de mama, enfim, lutar para que o direito à saúde seja de fato um direito e não apenas um artigo, uma letra morta, quanto tantos outros direitos aprovados pela Constituinte e inseridos em nossa Constituição Federal, aquela sobre a qual Ulysses Guimarães tanto se jactava de falar como Constituição cidadã.

Mulheres e homens brasileiros, parem, pensem, reflitam, lutem pelos seus direitos. A vida é um dom de Deus muito precioso para ser tão desrespeitada como acontece em nosso país, onde o descaso, a demagogia e a corrupção de nossos governantes e gestores públicos já passaram dos limites há muito tempo.

Juacy da Silva é professor universitário, aposentado da UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy


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