As últimas pesquisas de intenção de voto e/ou desejos administrativos no Brasil mostram um antagonismo feroz que apontam aos extremos daquilo que já vivemos em período não muito distante.
De um lado, tem aqueles que gostariam de trazer o militarismo, ou um ditador impositivo para “botar ordem”; do outro, um número considerável de brasileiros que gostariam de reconduzir o ex-presidente Lula ao poder. Como explicar isso?
As ciências do conhecimento e do comportamento humano apontam que, quando sentimos medo ou insegurança em relação a alguma coisa, imediatamente buscamos uma zona de conforto já vivida no passado.
Se encolher, buscar a posição fetal, é um dos comportamentos físicos aparente.
O inverso também é verdadeiro, projetamos para o futuro quando há esperança e a ausência de medo, como afirmava Charles Chaplin, “a vida é maravilhosa se não se tem medo dela”.
Utilizando estes conceitos para o momento vivido na política brasileira, eles ajudam na leitura das últimas pesquisas de intenção de voto e até nos movimentos recorrentes. Principalmente, via redes sociais, onde os nomes mais citados são os do ex-presidente Lula e do deputado “cherife” Bolsonaro, ou até movimentos sugerindo a volta de uma “ditadura militar”.
O período de administração do regime militar (1964 a 1985) ocorreu em uma época de um Brasil bastante rural, cujas informações não chegavam, ou quando chegavam eram super filtradas.
Isso sem contar o fato de existirem pouquíssimos assaltos ou roubos a pessoas físicas e, apesar das dificuldades financeira da população, para uma parte significante da sociedade eram períodos de calmaria.
Poucos brasileiros chegavam a faculdade e para quem não estava envolvido em movimentos sociais, partidos políticos e nem tinha parentes engajados, somado a filtragem dos noticiários, na sua maioria radiofônicos, viveram uma “sensação de muita tranquilidade e paz”.
Isso é fato. Leva, inclusive, ao esquecimento das dificuldades dos primeiros anos da década de 80, onde o ex-presidente João Batista de Oliveiras Figueiredo teve dificuldades econômicas e forte descontrole sobre a inflação.
Outro período de baixa turbulência ocorreu na primeira década dos anos 2000, período que esteve no governo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2002 a 2010), já com o país urbanizado, mas navegando na onda do crescimento econômico no Brasil e no mundo, onde as taxas de desemprego caíram vertiginosamente e tivemos muitas pessoas aumentando seu poder de compra.
Apesar do aumento da violência (principalmente urbana), a sensação era de progresso cavalar.
Utilizando os parâmetros do conceitos das ciências do comportamento humano, onde retornar a uma zono de conforto é a primeira atitude diante das dificuldades, verificamos que é até normal esta busca por um déjà vú (o termo é uma expressão da língua francesa que significa “já visto”), ou mesmo uma necessidade momentânea de revisitar o passado.
William Shakespeare escreveu que “nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, pelo simples medo de arriscar”. A verdade é que estamos em um momento de medo e insegurança com relação ao nosso futuro.
As pesquisas vão além de números, mostram a ausência de esperança nas instituições brasileiras e a desilusão com os instrumentos e aparatos protetivos do Estado.
Mas, voltar ao passado não pode ser a saída!
JOÃO EDISOM DE SOUZA é analista político e professor universitário em Mato Grosso.