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Oposição de verdade

A declaração do prefeito eleito, Emanuel Pinheiro, é sintomática: a votação deste domingo representa um “novo ciclo político em Mato Grosso”. A frase foi dita antes mesmo da abertura das urnas. Nela, há duas questões que eu gostaria de refletir com os leitores: a primeira é o reforço da ideia do “novo”; a segunda, diz respeito à abrangência estadual do que disse Pinheiro.

O que podemos entender? Formou-se uma oposição consistente ao governador Pedro Taques. Gostaria de sublinhar a palavra “governador” e não simplesmente “governo”. Penso que não há maiores resistências institucionais ao governo, uma vez que os projetos passam com facilidade na Assembleia Legislativa e as contas são aprovadas pelo Tribunal de Contas. Portanto, a resistência é de ordem pessoal ao governador Pedro Taques.

A fala do futuro prefeito da cidade com o maior contingente eleitoral é clara: somaram-se insatisfações e os votos de protesto foram despejados no candidato que representou um grupo responsável pelo maior assalto na história mato-grossense. Isso não interessou aos frustrados de toda a ordem: importava vencer “o governador”. Assim pensaram os servidores públicos que se sentiram maltratados e se articularam para “dar o troco”.

Por que é assim? A resposta não é fácil. Mato Grosso pode bem servir de laboratório para refletirmos como pensa o povo brasileiro. Assumiu Pedro Taques sem nenhum processo ou acusação nas costas. Isso basta? Não. Tomou posse num clima amplamente favorável com o antecessor preso por corrupção. Isso conta? Não. Desmontou o partido do principal articulador parlamentar, encampado completamente pelo vice-governador. Ajudou? Não. Então, onde está o problema, afinal de contas? Na minha visão, a questão não é “o que” o governador Pedro Taques faz ou fala. Mas “como” ele se comunica ou, talvez, comunicam por ele.

Em um tempo de informação instantânea, é preciso cuidado redobrado na forma, no método, no meio, a começar pelo próprio emissor da mensagem. É que “como dizer” conta mais que o próprio “dizer”. Nesse sentido, deu-se o embate pela revisão geral anual dos servidores públicos, além de toda a comunicação sobre a crise que afeta Mato Grosso. Duas dúzias de Estados estão em situação idêntica. Será que, em todos eles, o governador sofreu uma forte resistência como aqui? Por certo que não.

É preciso compreender que Pedro Taques, a figura pessoal dele, demanda uma blindagem por parte do arco de alianças. Não vejo essa defesa, nem por parte da maioria parlamentar, nem tampouco da maioria dos secretários. Algumas exceções na Assembleia, resumidas ao próprio deputado Wilson Santos, Guilherme Maluf e Botelho. No secretariado, a defesa ostensiva fica por conta de Paulo Taques, Adriana Vandoni, Marcelo Duarte, Luís Carlos Nigro, Marcos Marrafon, além de algumas outras peças de destaque como Paolla Reis e José Antônio Nogueira.

Os nomes declinados aqui são da minha percepção pessoal, pelo que acompanho como leitor assíduo de muitas mídias disponíveis. Concluo que um homem que simboliza a austeridade pessoal, a transformação de costumes e a moralidade na coisa pública precisava ao lado de mais gente que pensa e age da mesma forma. Daí que, relativamente isolado, o governador está sujeito a críticas de pessoas que, francamente, não tem credibilidade nem sequer para servirem de testemunhas em cartório, além da longa ficha criminal que ostentam sem o menor pudor. Mas o eleitorado deu uma mensagem inequívoca: não basta desqualificar o adversário. Não é isso que o povo quer ouvir e, pior, quer saber.

A mensagem das urnas no Estado é clara: o povo brasileiro e o mato-grossense, inclusive, lamentavelmente é pragmático em termos políticos. Quer ação. Quer resultado. Quer comunicação dando conta dessas diferenças conceituais. Nossa gente ainda não tem uma educação sofrível e, por isso, não há sofisticação política necessária para perceber “grupos políticos”, importando méritos e deméritos em alianças.

Não importam partidos. Não importa a ficha corrida de cada candidato. Não importa escândalos de ordem pessoal. Não importa nada que não seja o benefício concreto que o eleitorado quer usufruir. É uma visão imediatista? Claro que sim. Mas é o que temos para hoje. Nesse sentido, a mentalidade popular não encontra problema algum em eleger alguém destacado pelo mesmo rescaldo do passado, ainda que se passe por inovação. Esse embrulho falso é consumido sem maiores constrangimentos.

Formou-se um grupo de oposição. Oposição de verdade. Nele, estão alinhados Blairo Maggi, Mauro Mendes, Wellington Fagundes e, agora, o prefeito da capital, Emanuel Pinheiro, além de outros satélites de menor grandeza política ou visibilidade. Convém ao governador Pedro Taques não dar de ombros. Tentarão frita-lo em óleo morno, esquentando a frigideira aos poucos, até a eleição vindoura.

A comunicação precisa centrar forças em pontuar realizações práticas, mais do que as diferenças conceituais. A articulação política precisa ter competência para ramificar nas cidades do interior o suposto apoio dos deputados. Os secretários, cada qual em sua atribuição, devem se esforçar por demonstrar os resultados concretos do trabalho que realizam e, se não for pedir demais, devem promover um trabalho transdisciplinar entre as pastas.

E, por fim, o próprio governador Pedro Taques precisa cuidar não “do que diz”, mas “como diz”, não “do que faz”, mas “como faz”, não “do que trata”, mas “como trata”, o que precisa mesmo ser dito, feito e tratado. Ao prefeito eleito Emanuel Pinheiro, desejo uma excelente administração e muito equilíbrio para não fazer de Cuiabá um palco pessoal para oposição irresponsável.

Eduardo Mahon é advogado.


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