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O tempo está passando

Dezoito meses de governo Pedro Taques. Mato Grosso, em meio à pior crise financeira dos últimos oitenta anos, inchado com um funcionalismo convocado a despeito da responsabilidade fiscal, sistematicamente saqueado pela gestão passada. Nada contribui. Tudo atrapalha. O cenário parece não melhorar.

Não há dinheiro para grandes obras e não há mentalidade para arroubos populistas. Daí que a oposição aproveita para bicar o governo e o governador por erros próprios e alheios. Os equívocos de uma economia baseada na monocultura exportadora, de altíssima concentração de renda, onde o público era considerado como extensão do próprio quintal e os cargos eram vistos como uma oportunidade de negócio: isso já sabemos.

O que não entendemos são os desencontros de declarações gratuitas, personalistas e antipáticas, cacoete do homem que se demitiu da função acusatória, mas não conseguiu tirar o acusador de si.

As obras estão paradas. Parados estão projetos. Muita gente sem receber: empreiteiros, fornecedores, servidores públicos. Não é exclusividade de Mato Grosso, porém. No entanto, a sensação de insucesso é tanto maior quanto maior foi a expectativa num Estado considerado rico.

Infelizmente, é por meio da crise que aprendemos uma lição básica: não somos ricos. Nunca fomos. Confundimos a riqueza aparente de alguns, com o bem-estar da sociedade. Por mais liberais que sejamos – vivemos em pleno capitalismo – a prosperidade no agronegócio não significa de forma alguma o aumento da qualidade de vida do povo.

O governador deve gastar a popularidade não com entrevistas fúteis onde reafirma o óbvio (honestidade, ética, firmeza, caráter) e sim com o principal problema brasileiro e mato-grossense: a injustiça social. A redistribuição de renda por meio da tributação das grandes fortunas e da diminuição das renúncias fiscais incoerentes, não significa abdicar do capitalismo, mas torna-lo aceitável e sustentável a longo prazo.

Qual a marca do governo nesses dezoito meses? Um grande feito? Não há nada. Certamente, não foi por falta de vontade, mas talvez tenha sido por falta de criatividade de uma burocracia insensível ao que o governador diz. Todo gestor precisa de escalões intermediários para realizar o que pretende. Quando há muito projeto e pouca ação, a máquina pública trava. Não é só falta de dinheiro, mas falta de coordenação.

E quando falta dinheiro e coordenação ao mesmo tempo, é fatal. Talvez esse seja o governo de pequenas consolidações e não de grandes obras. É válido pensar assim? Claro que é. No entanto, os projetos precisam fluir. Pretendemos ver uma ampla discussão pública sobre o sistema seriado e ciclado na educação, assim como a definição do regime integral nas escolas públicas estaduais.

Queremos uma intervenção estratégica na saúde pública em cidades do interior para desonerar o sistema da capital que é um caso crônico de incompetência. Precisamos entender as fórmulas pelas quais um sistema tão concentrador de riqueza como é o nosso permanece desonerado, enquanto pagamos altíssimas taxas de impostos sobre a circulação de produtos comuns.

Pedro Taques tem a capacidade para tanto: abrir um debate amplo e direto com a sociedade sobre temas centrais, sem os tradicionais intermediários que cobram suas tradicionais comissões. Foi eleito com um cheque em branco, assinado e endossado. A credibilidade pessoal do governador sustenta a propositura de mudanças, mas não aguentará o imobilismo administrativo.

No frigir dos ovos, o responsável pela equipe é e sempre será quem escolhe. Portanto, enquanto pastamos uma grama seca, em tempos de profunda crise financeira nacional, sejamos corajosos para reformular antigos conceitos. Não podemos ficar reféns de nichos que fazem muito barulho, mas não representam a sociedade inteira, na verdade.

Quem foi eleito pela maioria do povo mato-grossense não foi um presidente de sindicato, um deputado estadual, um conselheiro, um desembargador ou líder de associação classista. Somente o governador tem essa procuração genérica e representa Mato Grosso, com os ônus e bônus do cargo.

Os estudiosos do orçamento estão alertando há anos que nichos de interesses no funcionalismo público brasileiro estão inviabilizando o desenvolvimento. Os conselheiros de contas alertam para a crise de uma máquina pública com pequeníssima margem de investimento desvinculado. A sociedade apoia maciçamente o combate à corrupção e aplaudirá a tributação dos altos rendimentos do agronegócio.

Aí estão os três grandes desafios. O povo apoiará o fim de um orçamento bicado por interesses mesquinhos e politiqueiros, apoiará o fim dos repasses obrigatórios, apoiará os cortes necessários na própria máquina pública. Transformação não diz respeito às obrigações costumeiras.

Transformação aponta para profundas reformas que devemos fazer na nossa própria mentalidade: o Estado não é uma vaca leiteira onde todos ficam grudados, não é provedor de riqueza fácil e sim um indutor de desenvolvimento, construindo pontes sobre abismos sociais. Quem sabe essa transformação comece por Mato Grosso e sirva de exemplo para o Brasil? Muita gente quer. A maioria, aliás. Para isso, foi eleito Pedro Taques. Restam apenas dois anos e meio de mandato, no entanto.

EDUARDO MAHON é escritor, ex-presidente da Academia Mato-Grossense de Letras e advogado


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