"> De 2017 a 2018 – CanalMT

De 2017 a 2018

Com a chegada da última semana do ano 2017, bem como das minhas férias, só voltarei a escrever meus artigos na derradeira semana de janeiro, quando os batuques e badulaques do carnaval já estiverem por toda parte.

No crepúsculo deste ano, gostaria muito de dizer que, no plano social, se tratou de um período positivamente inesquecível. Impossível. Foi dureza. E só não foi pior porque em 2018 haverá eleições.

Momentaneamente, as eleições – em especial, a presidente da República – conseguiram frear algumas decisões políticas que vinham em desabalada e atropelada correria, como, por exemplo, a votação da reforma da Previdência Social. Aliás, tão maléfica à maioria como foi a aprovação da reforma trabalhista: um desastre social que só o tempo carimbará.

Mas o que esperar de 2018?

Salvo algum fenômeno natural que pudesse fazer a terra mudar a lógica de seus movimentos, nada muito diferente do que vivemos no transcorrer deste ano.

Aliás, se me permitem e suportam uma pitada de realismo numa época em que muitos adoram acreditar em Papai Noel, eu diria que 2018 poderá nos fazer sentir saudades, e muitas, de 2017.

Dizendo isso, não digo pouca coisa; tampouco exerço a atividade de vidente, evidentemente.

Essa afirmação, na verdade, está escrita nas estrelas; só não, naquela que supostamente indicara aos Reis Magos o caminho da manjedoura em Belém.

Mas por que tudo é tão óbvio?

Porque as eleições serão a centralidade para todos nós, querendo ou não.

E é nisso que mora uma certa angústia, pelo menos a minha.

O quadro político posto hoje é o pior possível. Do bizarro e desnecessário antagonismo que vivemos até aqui entre “coxinhas” e “mortadelas”, sua evolução não poderia ter sido mais trágica.

A principal polaridade social do presente momento se dá entre duas possibilidades de arrepiar e desafiar a inteligência.

Conforme mostram recentes pesquisas, por conta de nossa degradação política, a maioria pensa em votar ou na volta da turma do Mensalão ou no retorno do ideário militar. Pior: fora disso, há quase nada se salva. Miséria política.

Diante disso, afirmo que nenhuma missa do galo teria mesmo sido capaz, em sã consciência, de nos trazer a paz de espírito que todos buscamos desesperadamente.

Pois bem. Da primeira possibilidade só nos livraremos se seu líder maior for condenado em segunda instância da operação Lava Jato. Se não for, poderá virar herói –do tipo mártir da justiça e da mídia – e se tornar presidente de novo.

Se isso ocorrer, só nos restará torcer para que o sufoco do medo da prisão tenha lhe ensinado alguma ética em sua enganadora existência no cenário político brasileiro; aliás, a mais enganadora dentre as demais. Caso contrário, novos e mais sofisticados esquemas de corrupção poderão ser gestados pelo antigo metalúrgico. Simples assim.

E o que dizer da segunda possibilidade?

Perplexo, digo que não merecíamos isso. Essa saída só pode ser considerada por seres que ignoram o real significado da história ou por pessoas que, de um jeito ou outro, souberam caminhar na corda bamba da vida nacional.

Sabedoria que pode ter tido algum sinal de conivência e aproximação com o regime golpista. Tudo o que foi diferente teve um preço muito alto.

Diante dessa polarização, muita gente deve estar se sentindo órfã de pai e mãe. De qualquer forma, como já dissera Ivan Lins, em tempos muito mais do que sombrios, “desesperar jamais”.

Diante disso, para 2018, só tenho um desejo a todos nós: que tenhamos muita força para as lutas, que não virão fracas.

ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é professor de Literatura na UFMT e doutor em Jornalismo pela USP.
rbventur26@yahoo.com.br 


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