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Desembarque imediato

O PSDB participa de um governo que pretende cassar. Parece contraditório. De fato, não há outra forma de compreender o magnetismo pelo poder a não ser pelo sacrifício da coerência.

A falta de mando nesses anos petistas deve ter ocasionado uma fissura no tucanato, escanteado durante mais de uma década sob a pecha de “privatista”, “neoliberal” entre outras bobagens que grudam em mentes menos preparadas. Em todo o caso, entrou num barco furado.

Em nome do “salvacionismo nacional”, pactuou de forma precária com o governo do PMDB do qual, aliás, já conhece bem os personagens porque são eles os mesmos que serviram no governo tucano. Nenhuma norma programática foi colocada à mesa. Bastaram, como é de se esperar da política atual, a distribuição de ministérios para dar visibilidade a uma candidatura futura. Ademais, não era o caso de “salvação nacional”, até porque nenhuma instituição republicana estava ameaçada ou comprometida.

Os tucanos erraram no tempo e no modo. Primeiro porque o desembarque petista gerou uma animosidade exacerbada contra quem entrou, incluindo aí os tucanos que não deveriam suportar essa rejeição antecipada. Num momento de crise política (mas não institucional), deveria o PSDB – tendo a experiência de dois governos federais – manter-se disponível para apoiar as reformas previdenciária, trabalhista, administrativa etc, não como parte integrante do governo que vai muito mal e não tem tempo para melhorar em meio à crise.

Segundo, porque uma eventual aliança eleitoral com o PMDB em nada seria prejudicada com os tucanos fora do governo, mas como base sólida no Congresso Nacional. Ademais, convém repetir, é o próprio PSDB que pretende – ainda – cassar a chapa Dilma/Temer no Tribunal Superior Eleitoral pelo aporte de verbas ilícitas na campanha de 2014.

Aliás, o PSDB certamente juntará a delação vazada do diretor da Odebrecht como prova de que Michel Temer pilotou a captação ilegal de propina para convertê-la em doação eleitoral. Daí que a posição do partido fica insustentável dentro do governo que está chocando uma espécie de ovo de serpente.

Que não deveria entrar, isso já sabemos. Hoje os tucanos estão numa situação embaraçosa, ao constatarem que a cúpula do PMDB está tão ou mais envolvida nos esquemas das empreiteiras do que o próprio PT. Isso para não falar dos personagens do próprio tucanato. Bem, o problema está posto. E agora, o que fazer?

Parece-me indubitável a necessidade de desembarcar do governo federal o mais rapidamente possível, pelas mesmas razões que vetariam a participação inicial: 1) coerência ao prosseguir com o processo de cassação da chapa; 2) rompimento da condição mínima de lisura para a permanência; 3) afastamento para evitar a contaminação do desgaste público que o governo ainda vai sofrer no Judiciário e no Congresso.

Nada impede, no entanto, de continuar apoiando medidas que, independentemente do governo que entra ou que sai, devam ser tomadas urgentemente. O PSDB deve recobrar a capacidade de propor políticas públicas estruturantes sem ficar amedrontado pela esquálida esquerda festiva que perdeu vigor em 2014 e continuará minguando em 2018. Os tucanos têm o Instituto Teotônio Vilella como fonte de ideias para despertar na militância alternativas viáveis para o país.

O PSDB deve ser inteligente e, nesse momento, colocar-se como o principal contraponto petista. Durante mais de uma década sofreu com o exílio do poder, configurando-se uma oposição preguiçosa, envergonhada, pouco aguerrida no enfrentamento. Agora, ao contrário, deve ser mais contundente para que as diferenças de propostas aflorem com exatidão: o que pensa o PT sobre a previdência, o funcionalismo, os investimentos em empresas públicas, o custeio da máquina, as normas trabalhistas e o que propõe o PSDB como alternativa.

É hora de denunciar a quebradeira promovida pela lógica paternalista, patrimonialista, irresponsável e corrupta do PT. Em nome da coerência, o PSDB precisa afastar da linha de pretensos candidatos à Presidência da República aqueles que também estão envolvidos com as mesmas traquinagens petistas. Deve voltar a se capacitar e pactuar com a opinião pública uma plataforma clara, objetiva, sem meias-verdades, dando conta do tamanho da crise em que nos metemos. Somente dessa forma, o partido recobrará a moral e força para comandar novamente o Brasil. Se o eleitor não perceber a diferença, é porque o PSDB ficou igual.

Eduardo Mahon é advogado.


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