"> Facções se expandem em regiões de garimpo ilegal na cobrança por segurança, extração de ouro e tráfico – CanalMT

Fonte: Gazeta Digital, créditos da imagem: Reprodução/Polícia Federal

Dos 142 municípios de Mato Grosso, 92 (65,2%) convivem com a presença de facções criminosas. O estudo, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), ainda apontou a existência de organizações em 44,6% dos municípios amazônicos. Em algumas cidades, um único grupo domina a área, mas em outras os conflitos são recorrentes diante da coexistência com rivais. A fronteira com a Bolívia, rotas de difícil acesso e baixa fiscalização são fatores que favorecem a

O número, extraído do relatório “Cartografias da Violência na Amazônia”, revela a expansão das facções para além dos grandes centros urbanos, num processo de capilaridade que atinge cada vez mais as regiões no interior do país.

O Comando Vermelho (CV) domina a atuação do crime organizado em Mato Grosso, estando presente em 85 dos 92 municípios citados no estudo. Dentre eles, o CV é a única facção presente em 71 cidades.

Além do CV, o estado conta com a presença do Primeiro Comando da Capital (PCC), Tropa do Castelar e Bonde dos 40 (B40).

Para Vladia Soares, professora de Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), existem alguns fatores que explicam a importância do território mato-grossense para os grupos criminosos. O estado é rota estratégica para tráfico e logística, possui fronteira com a Bolívia (um dos maiores produtores de cocaína do mundo) e a interiorização, que permite a ocupação de regiões menos fiscalizadas, como áreas rurais e de garimpo. O município de Cáceres, por exemplo, é um dos locais com a presença de pelo menos 3 facções, devido à importância de sua fronteira com o país boliviano, que se alonga por cerca de 100 km.

“Muitas das disputas entre facções se concentram em municípios ao longo de grandes rodovias e corredores logísticos, como as estradas federais, que ligam o interior à fronteira ou a outros estados”, explicou a pesquisadora.

As conexões entre as facções e o garimpo ilegal têm se expandido. Uma reportagem da Agência Brasil revelou um dos “informativos” divulgados pelo Comando Vermelho, através do WhatsApp, a pessoas envolvidas no garimpo ilegal em Alta Floresta (803 km ao norte de Cuiabá). “Todos os trabalhos ilegais dentro do estado de Mato Grosso são prioridade e voltados à organização [o CV]”, diz uma das mensagens.

No caso da Terra Indígena (TI) Sararé, outra região bastante conhecida pela presença do garimpo, o CV deixou de atuar apenas como “segurança” e passou também a gerir a extração ilegal de ouro, controlando máquinas, trabalhadores, insumos e cobrando “mensalidades” em ouro de garimpeiros.

“A presença desse controle [na TI Sararé] é bem estruturada. Há registros de acampamentos, balsas, escavadeiras de grande porte, logística de combustível, transporte, etc., como se fosse uma operação empresarial, mas criminosa”, disse Vladia Soares à reportagem do GD.

Uma operação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no último mês de setembro, entrou na área denominada “Garimpo do Cururu”, na TI Sararé, onde estariam concentrados e escondidos criminosos da facção Comando Vermelho. A equipe policial foi recebida pelos com tiros de fuzil.

Segundo David Marques, gerente de programas e projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, para se defenderem das imposições do Comando Vermelho, os garimpeiros da região vêm se organizando em grupos armados (milícias), o que também ajuda a explicar o alto índice de mortes na região. Foram 46 assassinatos em 2024 (em 2022 foram 13, em 2023 foram 24) nos três municípios que abrigam a TI Sararé: Conquista D’oeste, Nova Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade.

“Os faccionados do CV [estão] atuando diretamente nas operações, com investimentos na extração de ouro, reinvestindo o dinheiro do narcotráfico no garimpo legal de ouro”, argumentou Marques. “Esses garimpeiros, se organizando, formando milícias para resistirem a essa atuação do CV. Isso tem provocado um nível mais alto de conflitualidade”, completou.

Por sinal, Vila Bela teve a maior taxa de mortes violentas intencionais no último ano entre os municípios de até 20 mil habitantes. A região também faz fronteira com a Bolívia.

De acordo com o estudo, é justamente o aspecto fronteiriço, em paralelo à invasão de garimpeiros e organizações criminosas ligadas ao narcotráfico na TI Sararé, que explica o alto índice de violência.

Vila Bela da Santíssima Trindade é uma rota prioritária para entrada de cocaína produzida na Colômbia, transportada via Bolívia e distribuída para o restante do Brasil.

Contudo, o município não figurou entre as 50 cidades mais violentas na edição anterior do Cartografias. Portanto, “o agravamento da violência no território parece estar fortemente associado à intensificação do garimpo ilegal na Terra Indígena Sararé”, conforme aponta o relatório.


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