Essa crise incessante e enfadonha na saúde pública cuiabana, cujo capítulo foi a intervenção estadual certificada ontem (09) pela justiça, é apenas mais um de tantos afluentes de um entrevero entre o prefeito cuiabano, Emanuel Pinheiro, e o governador do Estado, Mauro Mendes. Um embate que não começou ontem e nem tem hora para acabar. Como os de outras áreas, inclusive no particular.
Eles brigam se engalfinham desde 2019 por qualquer motivo, e a qualquer cisco. É uma tensão hepática que dorme tarde e acorda cedo. Quando dois cães estão em confronto, rosnando e arreganhando os dentes um para o outro, basta alguém atirar um graveto para que a embrulhada se materialize.
Para um bom entendedor, meia palavra bas, diria Millôr Fernandes, em se tratando dos motivos que levam os dois a não compartilharem a mesma mesa. Para quem tem memória, será sido lógica a ideia de que as tramoias que o ex-secretário de Saúde do município, Célio Rodrigues parece ter praticado na empresa cuiabana de saúde e tramoia das grandes, já que 32 milhões de reais não são 32 drágeas (como acusa o MP), só ocorreram porque existe a tal empresa cuiabana de saúde foi criada exatamente por Mauro Mendes no final de 2013, quando estava no cargo hoje ocupado pelo seu rival Emanuel.
É verdade que o Brasil – e Cuiabá – vivia nesse tempo os arroubos do rebento da Copa do Mundo de 2014 e havia muita coisa para rolar e muitas tarefas a empreender. Mendes, por exemplo, se ocupava de entregar o Parque das águas, no Paiaguás, a urbanização da Beira Rio, o asfaltamento completo de todas as ruas do bairro Pedra 90, e o Novo Pronto Socorro Municipal, suas quatro obras mais importantes do mandato. Sem muito foco, a dita empresa de saúde, na gestão Mendes (que fechou o governo com mais de 80% de aprovação popular) nunca apresentou bons indicativos, mas era, afinal, os últimos meses de governo, uma nova eleição municipal batia à porta e a esperança era o futuro prefeito, que terminou sendo o que ora aí está.
Como Emanuel é um recordista em transformar secretários em réus ou em acusados de gula, em se tratando do erário, é de se supor que na papelada de criação da tal empresa cuiabana de saúde não haja quesito funcional que trate de evitar a sangria de recursos ou conter o apetite voraz pelo vil metal público. O certo é que alguma coisa muito séria aconteceu e está ocorrendo. Terceirizar serviços de saúde nunca foi vista com bons olhos ou como bons exemplos – embora a dita empresa tenha sido, em 2013, espelhada em um modelo de sucesso usado em Brasília para gerenciamento de hospitais universitários. Pode ser isso o ‘x’ da questão.
Fatos e mais fatos mostram que a terceirização de serviços públicos, como implantam no País, é escândalo anunciado. Seja na saúde ou em qualquer outra frente, exige ser tarefa milimétrica e cuidadosamente criteriosa. Não fizeram assim e o Gaeco (grupo especial de polícia para o combate à corrupção) que o diga. Enfim, por outro lado e não sem motivos, a guerra sem fim entre Emanuel e Mendes, citando apenas este campo da saúde pública, pois que há a novela BRT ou VLT, os únicos que têm sido abatido são os contribuintes, principalmente os enfermos.
Com a decisão da justiça pela intervenção estadual, resta torcer para que, lá adiante, não venhamos a dizer que entre mortos e feridos morreram todos – os contribuintes convalescentes e os contribuintes sãos.