Este ano não foi fácil. A imagem que me ocorre é a de um personagem do romancista alemão J. M. Simmel.
Num acidente de automóvel, um seu personagem ficou pendurado numa ponta de uma ponte que balança no abismo e ele não sabe o que fazer para sair da armadilha que o infausto acidente o meteu.
Se não ficar imóvel o pêndulo onde está se precipitará no abismo. O tempo passa e está ficando impossível continuar imóvel. O que fazer ou não fazer? Alguns e nem todos contam com a sorte! E, naquele momento, o imponderável fez das suas e o salvou.
No País do futebol, onde o Criador teria nascido, já usamos e abusamos da sorte. O imponderável está cansado de nós. Ele já fez muitas vezes o que era preciso, mas nós não fizermos o dever de casa e continuamos neste pêndulo que balança, mas não cai.
A inércia, entretanto, não é lugar para ficar. Ou continuamos a afundar ou emergimos. A incerteza reinou soberana no ano passado. No seu final havia indicadores de que paramos de cair.
O certo é que morando aqui ninguém está seguro. E a insegurança é um veneno para os nervos. As próximas eleições neste final de ano são uma incógnita. E até lá haja remédio para dor de cabeça, dor de barriga, coração e pressão incontrolável.
E eu e muito de nós – que estamos no outono da vida – queríamos paz de criança dormindo e abandono de flores se abrindo – estamos à beira de um ataque de nervos.
O salário que não existe e quando existe míngua a olhos vistos. Até o salário mínimo diminuiu. E uma pretensa reforma da previdência social que mal explicada agrava as nossas parcas esperanças de uma aposentadoria digna.
E os pequeno e médio empresários que viraram equilibristas, pois se fechar o seu negócio que vai mal das pernas não saberá o que fazer. E as inúmeras empresas fechadas e que estão por fechar.
E até no privilegiado porto seguro do serviço público começou a entrar água. O governo se equilibra num fio de navalha e vê indícios de recuperação que queremos acreditar que sejam reais.
Enfim como será o inferno? Se não é este é coisa parecida! Está difícil encontrar alegria neste samba! O que resta a nós outros otimistas? Tocar um tango argentino e esperar que alguma pitonisa nos preveja um futuro colorido!
O que fazer? Eu não sei, meu caro leitor! Já ouvi um samba e toquei um tango. Vou perguntar para o Drummond! – E agora, José! Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. Se você gritasse/ Se você gemesse/ Se você tocasse a valsa vienense/ Se você dormisse/ Se cansasse/ Se você morresse… mas você não morre… Você é duro, José!…Sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde? –
Enfim, cansado de tantas incertezas, de prisões, massacres, ladrões, roubos, corruptos e de quantas outras misérias humanas…
Vou ligar o meu velho e companheiro rádio, e me dar o privilégio de ouvir os suaves acordes das cores de arco-íris da delicada voz de veludo de Mariangela Prado!
RENATO GOMES NERY é advogado em Cuiabá.
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