O cabo da Polícia Militar Gerson Luiz Ferreira Corrêa Júnior, réu na ação penal que apura o esquema de grampos telefônicos ilegais em Mato Grosso, afirmou que operou o esquema dentro do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
As interceptações ilegais teriam ocorrido em 2014, na época em que estava lotado no grupo. A afirmação foi feita pelo policial durante interrogatório prestado aos delegados Flávio Henrique Stringueta e Ana Cristina Feldner, na última segunda-feira (16).
Conforme Gerson, que está preso desde abril devido à sua participação no esquema, foi o cabo Luiz Torezan, também envolvido na trama, quem instalou o sistema em seu computador no Gaeco.
Com isso, ele pôde ouvir as interceptações lá dentro. O esquema teria vitimado centenas de pessoas, entre políticos, médicos, empresários, jornalistas e um desembargador aposentado.
“Nesse período, eu estava lotado no Gaeco, fazia dupla jornada. Com o surgimento da plataforma Sentinela, facilitou muito o trabalho, porque o acompanhamento era operado pela web. Então, eu realizava algumas escutas na sede do Gaeco mesmo”, disse o cabo em depoimento obtido pelo MidiaNews.
Ainda segundo Gerson, os áudios dos grampos não chegaram a ser enviados pela web para nenhum dos secretários. São acusados de participar do esquema os ex-secretários chefe da Casa Civil, Paulo Taques, de Segurança Pública, Rogers Jarbas e de Justiça e Direitos Humanos, Airton Siqueira. Além deles, foram presos os coronéis Evandro Lesco e Zaqueu Barbosa, ex-secretário da Casa Militar e o ex-comandante da PM, respectivamente.
“O que foi feito foi o direcionamento para dois canais [Wytron e Sentinela usados para realização de escutas], mas não direcionado para outras pessoas. Na verdade, a gente direcionava para dois canais porque o sistema Wytron estava tendo falha, então colocava no Wytron e Sentinela. Alguns dos alvos eu fiz muito isso, por isso deve aparecer ofícios para as operadoras com os dois canais para o mesmo alvo”, disse.
Gerson garantiu ainda que, depois do Gaeco, o esquema passou a ser operado de uma sala comercial, localizada na Rua Desembargador Ferreira Mendes, nº 235, na região central de Cuiabá. Lá ele obteve ajuda de outros quatros militares.
O caso só veio à tona após a denúncia do ex-secretário de segurança, Mauro Zaque, e atualmente está sob a responsabilidade do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Mauro Marques, uma vez que é apurada a participação do governador Pedro Taques no esquema.