Três novos números institucionais do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, que ficavam à disposição do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (GAECO), foram constatados na lista de ligações interceptadas ilegalmente por policiais militares. Assim que o “escândalo dos grampos” veio à tona, o MPE já havia verificado um número institucional. Agora já são quatro os números.
O procurador-geral de Justiça, Mauro Benedito Pouso Curvo, afirmou que, devido à “ousadia” demonstrada pelos envolvidos no esquema, não causou surpresa mais esta constatação. Ressaltou que o Ministério Público é o maior interessado nessas investigações e que vem adotando, dentro de suas atribuições, as providências cabíveis .
Segundo ele, para garantir o princípio da transparência e evitar especulações, enquanto aguarda o compartilhamento das investigações pela Procuradoria Geral da República (PGR), o MPE providenciou auditoria interna e comprovou que nenhum dos números interceptados ilegalmente passou pelo guardião do Gaeco. A medida foi adotada logo após a instituição verificar que os envolvidos no esquema atuaram no Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado.
Conforme o procurador-geral de Justiça, o guardião do Gaeco foi adquirido há mais de 10 anos, é auditável e não deixa margem de dúvidas sobre a sua utilização. Antes da sua aquisição, o Gaeco possuía a Solução Wytron para gravação telefônica, que funcionava por meio de um Kit de canais de gravação.
“No decorrer do Inquérito Policial Militar, fomos indagados pelo encarregado das investigações sobre o funcionamento das interceptações antes da aquisição do guardião do Gaeco. Acreditamos que tal indagação tenha sido motivada pelo fato dos envolvidos no esquema terem utilizado equipamento adquirido pelo mesmo fabricante que atendia a vários órgãos de repressão à criminalidade no país. Fizemos um levantamento e verificamos que em 30 de março de 2007, antes da substituição do Sistema Wytron, as placas então existentes, devido à queima, foram substituídas por uma única placa de 32 canais, a qual difere das duas placas mencionadas na investigação como sendo as utilizadas no ‘grampolândia pantaneira’”, informou.
Curvo fez questão de ressaltar que, após a aquisição do guardião e o fortalecimento da sua equipe de trabalho, hoje composta por policiais militares, delegados de polícia, cinco promotores de Justiça e servidores do Ministério Público, o Gaeco priorizou o efetivo combate à corrupção. “Nos últimos anos, o Gaeco desencadeou 18 grandes operações, tentando passar a limpo a triste página do desvio de recursos públicos no Estado de Mato Grosso”, observou.
GRAMPOS
O esquema de grampos ilegais no Estado veio a tona em maio deste ano, através de uma reportagem do programa Fantástico. O esquema, denominado “barriga de aluguel”, consistia na inserção de números alheio a investigações de crimes comuns – como tráfico de drogas – para serem alvos de escutas. Constatou-se que jornalistas, advogados, médicos e até a deputada Janaina Riva foram alvos das interceptações.
Desde o início das investigações, foram presos os coroneis Zaqueu Barbosa (apontado como líder do esquema), Evandro Lesco e Ronelson Barros; o tenente-coronel Januário Batista e o cabo Gérson Luiz Correa Junior. Destes, apenas Zaqueu e Gérson Correa seguem presos.
O ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques, também foi preso por uma semana por mandar grampear a ex-amante, a publicitária Tatiana Sangalli. Na última semana, o desembargador Orlando Perri determinou o afastamento do secretário de Segurança Pública, Rogers Jarbas, por fornecer dados sigilosos das investigações da Polícia Civil e por investigar “paralelamente” o promotor Mauro Zaque, ex-secretário da pasta e autor das denúncias.