Tenho sido questionado sobre diversos assuntos depois que passei a escrever nesta coluna. E o mais frequente é um suposto e pretenso retorno dos militares ao poder para pôr fim a este período de incertezas que vivemos.
É, entretanto, preciso contextualizar esta questão.
Na década de 60, quando aconteceu a tomada do poder pelos militares no Brasil, havia uma conjuntura favorável para isto. A grande maioria dos países da América do Sul era governada por ditaduras.
Havia um receio de que a Revolução Comunista Cubana se espalhasse pelo continente. Os EUA apoiavam golpes temendo o comunismo.
No plano interno, o Governo de esquerda propalava e prometia uma República Sindicalista.
A classe média, onde está incluída a maioria do militares, fazia passeatas contra o regime. Os militares, temendo, pela paz e pela ordem ameaçada com propagação de ideias e comícios radicais, estavam em alerta. Daí ao golpe foi um passo.
Não temos, hoje, quaisquer dos fatores acima que pudessem se pensar para romper a ordem estabelecida. Pelo contrário, os militares voltaram aos quartéis e não tem nada que indique que eles queriam sair de lá.
Não existe ambiente externo e nem interno que possa influenciar na mudança de rumo. Pelo contrário, floresce no mundo inteiro democracias representativas.
A população preocupada com o desemprego e com a crise econômica luta heroicamente para sobreviver, passando ao largo e indiferente para com as estripulias políticas.
Neste contexto, me parece que a ordem estabelecida corra risco. Sem ambiente propício, não haverá golpe e nem os militares embarcariam numa empreitada desta.
Entretanto, no olho do furacão algumas pessoas acham que a saída seria a tomada do poder pelos militares, pensando do lado bom e esquecendo-se da face cruel.
E isto seria repetir a história e quando isto acontece “ela se repete, pela primeira vez como tragédia e pela segunda vez em forma de farsa”, como afirmou Karl Marx.
Já pensou, por hipótese, a Dilma sendo torturada outra vez? O Lula voltando do exílio!
Bem como nas pretensas vítimas e injustiçados do regime a pleitearem anistia! E esquerda propalando soluções mágicas para salvar o Brasil! Este filme nós já vimos!
Não esqueçamos de que o poder embriaga.
Ninguém que o tenha quer perdê-lo. Ir-se-á entrar na mesma armadilha do passado. A promessa era o golpe e, em seguida, a entrega do poder aos civis com eleições livres. A retomada foi difícil e dolorosa 20 anos depois.
O desafio é grande. Os políticos são frutos desta sociedade onde a ordem é tirar vantagem. A realidade que temos é esta! O povo que temos é este!
Estamos com uma chance de ouro para purgar nossos erros e desacertos em busca de um futuro promissor. Nunca se apurou ou se puniu tanto.
Para se chegar ao paraíso, é preciso passar pelo inferno. Não há mal que sempre dure e bem que nunca acabe – como dizia a minha mãe.
Portanto, é preciso enfrentar as dificuldades e resolvê-las com razão, talento, lógica, sabedoria e competência.
Não se pode ficar procurando soluções mágicas ou pedindo socorro extremo toda vez que surge um problema ou um desafio.
A esperança é nossa companheira de jornada e o voto ainda é uma arma poderosa!
Não esqueçamos que, nos regimes de força, a primeira coisa que se perde é o direito de votar.
O resto é pedir a Deus que nos ilumine e nos guie.
RENATO GOMES NERY é advogado em Cuiabá.
rgnery@terra.com.br