"> O sofá – CanalMT

O sofá

Ainda com a alma exultante pela vitória do Cuiabá, no último domingo, em Alagoas, lembro a antiga piada do marido que chega de repente em casa e flagra uma cena de traição no sofá da sala.

Tentando demonstrar autoridade e poder toma uma decisão drástica, vendeu o sofá. Ela pode até nem ser mais tão gozada, mas traduz muito bem muitas situações sérias que vivemos no Brasil, do Caburaí ao Chuí.

Senão, vejamos. O estádio Presidente Dutra, o histórico “Dutrinha”, como é carinhosamente chamado, foi fechado por mais de dois anos, sob alegação de falta de segurança, após uma manifestação irresponsável de agressão aos árbitros, ao final de uma partida, por parte de alguns torcedores.

A agressão só não foi às vias de fato justamente pela proteção que o estádio deu ao trio, protegido por um gradeado metálico que vai do campo até um local seguro, sob a arquibancada.

Ainda devem existir vídeos na internet desse triste espetáculo, onde se pode ver os agressores enfurecidos, tentando em vão vencer a proteção metálica. O que aconteceu?

Ninguém foi punido, mas o Dutrinha foi prontamente fechado, com graves prejuízos ao esporte mato-grossense, com jogos sendo realizados em campos de bairros, estes, sim, sem a menor condição de jogo ou de segurança, higiene, tanto para jogadores como aos torcedores.

Nesse tempo de interdição, o Dutrinha foi abandonado por seu proprietário, o Município, e reaberto degradado, agora em condições muito piores do que quando foi fechado.

Deixaram acabar o campo sagrado do futebol mato-grossense, onde jogaram Pelé, Garrincha, Mazurkiewicz, Ruiter, Bife e outros, impossível para receber uma partida e terá que ser refeito. Ninguém punido. Só o sofá!

Tem o caso também do VLT que, por responsabilidades conhecidas publicamente, substituiu, a dois anos da Copa, o BRT, o outro modal, menos sofisticado, que já havia sido escolhido dois anos antes, com projetos e financiamentos definidos.

Na época em que aconteceu a troca, cheguei a escrever artigos colocando-me a favor da continuidade do BRT, não porque o VLT fosse necessariamente inadequado para Cuiabá, mas porque não havia mais tempo hábil para concluí-lo para a Copa, apenas dois anos depois.

Não deu para ser feito. Desconfiava-se e hoje é confirmado que pintaram os canecos em cima do VLT, como no sofá. Sabem o que está acontecendo? Estamos discutindo se jogamos fora o sofá ou não.

Depois do cidadão mato-grossense ter pago pelo sofá mais de 1 bilhão de reais! E desconversa-se sobre os que se esbaldaram sobre o VLT.

Na época correta, fui contra o VLT, hoje sou pela sua conclusão, bem executado, integrado à cidade e aos demais modais, e com rápida punição aos de culpa comprovada, nos mais elevados rigores da lei.

O país precisa de uma reforma política séria, que não seja apenas a troca de um sofá eleitoral por outro, como é sempre feito. Com frequência, a lei é mudada sob o argumento de que a nova não será fraudada.

E os danadinhos fraudam. Aí mudam de novo e de novo é fraudada pelos mesmos bandidos de nomes e caras conhecidos no noticiário nacional e internacional. E fica esse mimimi em busca de um sistema à prova de corrupção, quando o que falta é punição aos corruptos.

Não são as leis que se auto corrompem, elas são corrompidas. Mas sobre os fraudadores, necas de pitibiribas!

Agora, a panaceia política será uma nova troca de sofá. Fingem trabalhar sério, mas estão certos de que não serão incomodados e continuarão a se esbaldar em qualquer modelo de legislação.

E a tão esperada reforma política, a mãe de todas as reformas, corre o risco de ser apenas uma nova troca de sofá na sala para desfrute dos protagonistas de sempre.

JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (CAU/MT) e professor universitário em Cuiabá.

joseantoniols2@gmail.com


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