Presidente do diretório estadual do PMDB, o deputado federal Carlos Bezerra cobrou do ex-governador Blairo Maggi (PP), atual ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a quantia de R$ 4 milhões para o partido apoiar a candidatura do empresário Mauro Mendes (PSB) na disputa a prefeito de Cuiabá em 2008.
A quitação da dívida foi feita por meio de um pagamento de precatório considerado fraudulento pela Polícia Federal nos autos da Operação Ararath.
A revelação consta no acordo de colaboração premiada do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) firmada com a Procuradoria Geral da República (PGR) e homologada pelo ministro Luiz Fux do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 9 de agosto.
Em 2008, Mauro Mendes presidia a FIEMT (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso) e foi lançado na política naquele ano pelo então governador Blairo Maggi para disputar a Prefeitura de Cuiabá pelo Partido da República (PR).
Meses antes da eleição, o PMDB se aproximava do então prefeito e candidato à reeleição Wilson Santos (PSDB).
Diante disso, Blairo Maggi e Mauro Mendes entraram em contato com o então vice-governador Silval Barbosa para convencer Bezerra de que o apoio do PMDB seria importante ao PR na disputa em Cuiabá.
Estreante na política, Mendes considerada imprescindível o apoio do PMDB para obter maior tempo de propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV e incorporar militantes ao seu projeto de concorrer a Prefeitura de Cuiabá.
“Diante do pedido de Blairo Maggi e Mauro Mendes, o colaborador se reuniu com o Carlos Bezerra, que hoje é deputado federal, pedindo para que o PMDB apoiasse Mauro Mendes, tendo Carlos Bezerra dito que apoiaria somente se Blairo Maggi e Mauro Mendes entregassem R$ 4 milhões de reais para o PMDB, tendo o colaborador conversado com Blairo e Mauro acerca do pedido de R$ 4 milhões, tendo Blairo dito nessa reunião que arrumaria tal montante”, diz um dos trechos do depoimento.
O responsável em arrecadar o dinheiro foi o então secretário de Estado de Fazenda, Eder Moraes, que intercedeu junto ao empresário Júnior Mendonça, proprietário da rede de combustíveis Amazônia Petróleo, e apontado pela Polícia Federal como operador de um esquema clandestino de empréstimos fraudulentos e lavagem de dinheiro por meio da factoring Globo Fomento, o que levou a tornar-se delator na investigação da Operação Ararath que apurou a existência de um amplo esquema de lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro nacional.
Mendonça foi responsável em conseguir R$ 3,3 milhões por meio de cheques e dinheiro em espécie. Coube ao ex-secretário executivo da presidência da Assembleia Legislativa, Tergivan Luiz de Morais e Fernando Garuchi, apontados como sócios de uma factoring em Cuiabá, emprestar R$ 700 mil ao empresário Júnior Mendonça por meio de uma nota promissória.
Passado um ano da eleição, em 2009, o empresário Júnior Mendonça começou a pressionar Silval Barbosa para receber a quantia de R$ 4 milhões. De acordo com o ex-governador, o Estado autorizou o pagamento de um precatório na ordem de R$ 9,5 milhões em favor da Hidrapar Engenharia.
Coube ao advogado Kleber Tocantins repassar parte do dinheiro a Mendonça. Silval assegura que não foi favorecido com nenhuma quantia em dinheiro deste pagamento, pois coube a Eder Moraes a articulação para quitar a dívida que comprou o apoio do PMDB ao empresário Mauro Mendes na disputa a prefeito de Cuiabá.
Naquela ocasião, Mendes foi derrotado em disputa de segundo turno contra Wilson Santos somando 114 mil votos.