O jornal da manhã relata três fatos graves: a situação dramática da saúde no Brasil, o imenso número de mortes de policiais no combate ao crime organizado e a situação insustentável dos presídios.
Na semana passada, aqui na terra de Miguel Sutil, um colega foi mantido, em sua casa com a família, reféns de bandidos por várias horas.
A televisão ainda nos brinda com um suposto envolvimento do governador do Estado com grampos telefônicos de inúmeras pessoas.
Eu me pergunto, onde foi que nos perdemos? A resposta que me parece mais clara: é o mar de corrupção que assola, nos últimos tempos, o País de Norte a Sul e de Leste a Oeste.
Será que é somente isto? Não se cuidou de nada! Tudo no Brasil está bichado! Enquanto se tinha dinheiro, gastou-se deliberada e irresponsavelmente.
A Copa do Mundo, onde se gastou um rio de dinheiro, enterrou o Brasil num mar de dívidas, de obras malfeitas e inacabadas que estão a perecer a céu aberto, sem destinação, sem controle e sem administração.
Quanto dinheiro jogado fora! Mas não é somente isto, não cuidou: da saúde, da educação, da segurança, dos presídios e do bem estar das pessoas.
E agora se instituiu mais impostos para pagar os altos custos do poder público. Enquanto isto a população padece, sem perspectiva, no desalento e no desencanto de um incerto futuro.
Direitos são consolidados, com aumento de salários da elite de indômitos servidores, sem se preocupar que não tira de onde não se amealhou, pois a vida é uma conta de aritmética.
O atual Governo Federal tenta se equilibrar no fio da navalha de um futuro incerto, pois depende de decisões do Parlamento e do Poder Judiciário para se manter no poder.
Mais de uma dezena de milhões de desempregados lutam desesperadamente pelo escasso pão de cada dia.
Nas ruas, observo as crianças, alheias a tudo que está acontecendo, elas riem, brincam e se divertem na mais pura inocência. E me pergunto – o que vamos deixar para elas? A minha geração e as que me antecederam fracassaram miseravelmente.
Sinceramente, essas reflexões me deixaram melancólico. Não encontro nem perspectiva e nem solução! Preferia não ter que pensar em nada disso. E este “pingo” que insiste em pingar, me tirou a paz e o sono.
Por que tudo isto me incomoda tanto? Eu que queria paz de criança dormindo e abandono de flores se abrindo, me encontro neste dilema sem solução.
Quero! Tento! Mas não consigo! Enfim não tenho condições de salvar o mundo! Não vou conseguir afastar este Cálice!
Pensando bem, nesta noite quente e seca de ar rarefeito, acho que vou sair para “cheirar fumaça de óleo diesel e me embriagar até que alguém me esqueça”(Milton Nascimento e Chico Buarque).
RENATO GOMES NERY é advogado em Cuiabá.
rgnery@terra.com.br