Apesar de ter sido indiciada por crime de tortura de um aluno durante treinamento, a tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur de Souza Dechamps, está apta para ser promovida para capitã. O nome dela foi publicado em Diário Oficial, indicando que está entre os nomes que vão passar por avaliação de uma comissão interna da instituição. O prazo para a avaliação se encerra no próximo dia 20 de junho e a promoção acontece no dia 2 de julho. Ela teve a promoção suspensa, no dia 5 de dezembro, em decorrência da investigação da morte do aluno.
egundo informações do Gabinete de Comunicação do Governo (Gecom), a decisão será proferida por uma comissão composta pelo Comandante Geral do Corpo de Bombeiros e mais quatro coronéis. São realizadas avaliações físicas e de saúde. Depois, a ficha funcional do candidato é analisada, bem como os atos da sua vida profissional.
Obedecendo todas as condições necessárias, o oficial será promovido, de acordo com a sua pontuação e com o número de vagas existentes para o posto. O governador do estado, até o posto de tenente-coronel, apenas faz a nomeação, através de ato publicado no Diário Oficial.
A possibilidade do nome da tenente estar entre os “premiados” pela corporação só traz mais dor e revolta para a mãe do aluno bombeiro Rodrigo Patrício Lima Claro, 21, que morreu no dia 15 de novembro de 2016, em decorrência de hemorragia cerebral. Ele foi hospitalizado cinco dias antes, logo depois de deixar um treinamento em água, comandado por Ledur, na Lagoa Trevisan. Inquérito confirmou que jovem foi submetido a sessões de afogamentos (caldos), aplicados por Ledur, a ponto de passar mal e desistir da prova.
Jane Patrícia Lima Claro, 38, diz que até agora, só a família de Rodrigo vem sendo punida pela morte precoce dele. Além da dor da perda, luta todos os dias para que a Justiça seja feita e que a tenente receba uma punição pelos seus atos. Até agora, garante, nada aconteceu. Ela continua trabalhando normalmente e, caso a promoção se confirme, apesar de todas as denúncias, mais uma vez ficará evidente que ela continuará gozando da proteção de seus superiores.
Em decorrência da morte de Rodrigo, dois procedimentos foram instaurados para apurar os fatos. Na esfera Militar foi aberto um Inquérito Policial Militar (IPM), que concluiu pela existência de indícios de crimes militares praticados pelo tenente-coronel Reveles, comandante do 1º Batalhão da Capital e pela tenente Ledur. Ela foi acusada de expor a perigo a vida do aluno durante o treinamento.
Já, inquérito da Policia Civil, presidido pela delegada Juliana Chiquito Palhares, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), indiciou a tenente Ledur por crime de tortura. Aponta ela como autora de atos de tortura ao impor ao aluno Rodrigo Claro, que estava sob sua autoridade, “intenso sofrimento físico e mental, mediante violência e grave ameaça, caracterizado pelos sucessivos ‘caldos’ e posturas coercitivas, como forma de lhe castigar pelo péssimo desempenho e pelo fato de ter apresentado atestados médicos em sua disciplina”.
Tanto o IPM como o inquérito civil foram remetidos para a 7ª Vara Criminal da Capital, sob responsabilidade da magistrada Selma Rosane Santos Arruda, Especializada em Crime Organizado. No parecer do promotor da Vara Militar, não houve crime militar e por isso o julgamento cabe à Justiça comum. A denúncia do Ministério Público ainda não foi feita nos autos.