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Por que Trump não teve nada de Nixon ao fritar diretor do FBI

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O poder das agências de inteligência é quase infinito. É importante insistir nisso para entender melhor como os serviços de informação americanos, incluindo a ala de espionagem do FBI sabem tudo, ouvem tudo, vigiam tudo.

Exatamente por isso, precisam ser sujeitos aos mecanismos de controle da democracia. E isso tudo está inter-relacionado na decisão de Donald Trump de demitir James Comey da chefia da policia federal americana, sem aviso prévio nem nada, coitadinho.

Só para tentar aproximar do nosso universo. Vamos pegar uma cidade pacata como Caratinga, por exemplo. Um morador da encantadora cidade mineira acorda, vai trabalhar no seu emprego público, usa o computador indevidamente para perseguir seus próprios interesses.

A inteligência suprema sabe de tudo. Volta para casa, acreditando-se na paz celestial. Vai ao banheiro, faz isso, faz aquilo, telefona, fica mais um tempinho na Internet, achando-se anônimo e esperto. O algoritmo sabe de tudo.

Imaginem isso multiplicado por 320 milhões de americanos – incluindo congressistas, juízes, membros do governo. Quem ouve, sabe tudo e armazena tudo – para abrir os detalhes quando for considerado necessário – é a agência NSA. E tudo que ela recolhe pode ser solicitado por outros órgãos, incluindo o FBI.

DESVIO GRAU 3

O FBI também recolhe informações ativamente e investiga os casos internos de espionagem, de acordo, evidentemente, com as normas do estado de direito. Sob a direção de James Comey, emaranhou-se em intervenções indevidas e politizadas, tanto em relação a Hillary Clinton quanto a Donald Trump.

Fez lambanças graves e prejudiciais, na instância final,  para o país. Foi um desvio de função de grau 3. Daí que possa ser chamado de traidor do seu cargo e do seu juramento.

Hillary não perdeu a eleição para Trump por causa das atitudes desastrosas de Comey, mas está certa ao reclamar dele. Comey primeiro convocou uma entrevista coletiva, totalmente fora do padrão de comportamento de um diretor do FBI, para dizer que ela havia sido “negligente” ao usar um servidor privado para comunicações do mais alto nível de sigilo quando era secretária de Estado.

Mas não havia cometido nenhum crime. Desde quando diretor do FBI decide isso? Desde quando  é da competência da polícia federal julgar e passar veredicto?

BRAÇO POLÍTICO

Mais escandalosamente ainda, apenas duas semanas antes da eleição mandou uma carta a uma comissão parlamentar dizendo que o FBI estava investigando como e-mails de Hillary haviam ido parar nos computadores de Anthony Wiener, o marido pedófilo da principal assessora dela, Huma Abedin.

Tornou-se, por isso, o homem mais odiado pelos democratas dos Estados Unidos, depois de Trump, evidentemente. Depois de sua demissão, passou a ser tratado como um herói da verdade e da justiça, sacrificado por Trump por interesses escusos.

A oposição democrata se enrascou nesse caso, mas está fazendo o que compete a um partido acuada: contra-atacar.  Errados estão os grandes órgãos de imprensa que “compram” o pacote democrata como se fosse a expressão da verdade. O dever dos informadores é buscar a versão mais próxima da verdade, não agir como braço politico de um partido.

DOSSIÊ SUJO

Em relação a Trump, comprometeu ainda mais os padrões institucionais, morais e éticos obrigatórios para o FBI. Chegou a cogitar pagar – com o dinheiro do contribuinte americano – um ex-espião inglês que havia sido contratado para fazer um dossiê sujo sobre Trump.

Christopher Steele, que chefiou a espionagem inglesa em Moscou quando estava no MI5, prestou serviços para a oposição republicana e democrata a Trump, com sua empresa particular de informações  Montou o dossiê com fontes secundárias: russos que vivem na Inglaterra e em outros países ocidentais levantaram as informações com fontes locais por telefone.

O que é verdade, o que foi plantado, o que foi inventado? Nenhum profissional sério analisaria o dossiê sem levar todas estas considerações em conta. Alguns nomões altamente qualificados disseram que o documento era irremediavelmente comprometido. Mas Comey parece ter levado a coisa a sério.

Será que Trump demitiu Comey porque se sentia ameaçado pelas investigações do FBI sobre as conexões russas de integrantes de sua campanha e, depois, de seu governo? É legítimo e até obrigatório ter esta suspeita, investigá-la e não deixar pedra sobre pedra até que tudo esteja exposto.

Isso tem que ser feito – como está sendo – pelos órgãos de imprensa e pelas instâncias certas do legislativo e do judiciário. A demissão de Comey só aumenta esse ânimo investigativo. Se redundar na nomeação de um promotor especial independente, Trump está lascado.

FATOR MONICA LEWINSKY

Nenhum promotor independente encerra os trabalhos investigativos sem ir mais fundo do que uma tomografia em todos os detalhes do presidente investigado. É o chamado fator Monica Lewinsky. Foi isso que aconteceu com Bill Clinton.

O  impeachment de Clinton foi desencadeado por umas obscuras suspeitas transações financeiras e imobiliárias que a oposição republicana exigiu investigar.  Acabou em Monica Lewinsky. Clinton foi salvo pela votação final do Congresso.

E foi a demissão de um promotor independente, Archibald Cox, que empurrou Richard Nixon mais ainda para o buraco em que já havia se metido com as tramoias e bandidagens que armou para esconder a origem de uma arapongagem desastrosa para grampear adversários democratas num prédio chamado Watergate.

Nixon demitiu Cox juntamente com nomes mais importantes do que ele, incluindo o ministro da Justiça. Foi um ato autodestrutivo, como é típico de políticos desesperados, que ficou conhecido como Massacre de Sábado à Noite.

Cox havia intimado Nixon a entregar as gravações  que fazia secretamente de todas as suas conversas na Casa Branca. Teve que acabar fazendo isso, mesmo com o respeitável Cox já fora da jogada, por decisão da Suprema Corte. Renunciou em questão de dias.

POÇO DE ENCRENCAS

Quando um jornal como o New York Times compara a demissão de Comey à de Cox, sabe perfeitamente que são situações diferentes. Faz isso porque tudo o que Trump fizer estará sempre errado e tudo o que o Times puder fazer para criar uma situação de impeachment será feito.

As relações do entorno de Trump com os russos são um poço de encrencas. Os serviços de inteligência russo, guiados pelo mestre Vladimir Putin, tentaram influenciar a eleição presidencial americana, plantando informações manipuladas? Com toda certeza. Pesaram no resultado? É quase impossível concluir em que medida.

Mas se os russos “ganharam” a eleição, Trump bateu a carteira de Putin e roubou o relógio também – metaforicamente. Já mandou soltar Tomahawks no quintal sírio de Putin.

O secretário de Estado Rex Tillerson ainda trolou os russos pelo uso de armas químicas que eles haviam assumido o compromisso internacional de tirar do arsenal de maldades de Bashar Assad. “A Rússia foi cúmplice ou a Rússia foi incompetente”, definiu ele na época, numa das frases mais definitivas já ditas por um secretário de Estado.

Muito calmos e espertos como sempre, os russos foram a Casa Branca se reunir com Trump no meio do bafafá provocado pela demissão de Comey. Sergey Lavrov, o astutíssimo ministro das Relações Exteriores, já percebeu que está lidando agora com gente de seu nível de planejamento estratégico.

O embaixador Sergey Kysliak, que tantas encrencas já causou com seus encontros posteriormente revelados com integrantes do entorno Trump, estava uma seda. de sorrisos. Nenhum sinal de raiva, como é próprio dos profissionais.

Jornalistas americanos não gostariam do “sorriso irônico” de Lavrov quando perguntaram sobre a demissão de Comey. Foram infinitamente replicados pelos Idiotas Sem Fronteiras. Todos continuam achando que, além de extremamente burro, Trump está a um passo do impeachment.

O rio da politica é traiçoeiro. Quem sabe não se comprovarão certos? Mas talvez ainda vá demorar um tempinho.


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