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Exemplo do rei

No momento em que existe carência de estadistas, de lideranças políticas voltadas para servir a comunidade (e não de ser servida), vale a pena refletir sobre personagens que fizeram história pelo seu país.

Um fato que chamou a atenção e estudo de especialistas foi o reinado do Rei Bhumibol Adulayadej, da Tailândia, que permaneceu no trono por 70 anos (1946-2016). Ele faleceu em 13 de outubro do ano passado.

De acordo com o Embaixador da Tailândia no Brasil, Pitchayaphant Charnbhumidol, o “monarca era amado por todos os seus súditos – as casas e escritórios em todo o país exibiam retratos de sua majestade em lugares de destaque, revelando a adoração das pessoas pelo Rei, que será lembrado como o monarca que mais trabalhou para melhorar as vidas de todos os cidadãos, por meio de seu vasto conhecimento sobre a difícil condição de existência no país”.

Carinhosamente chamado de “pai da nação” pelo povo tailandês, fez jus ao título, ao honrar o compromisso assumido na cerimônia de coroação: “Iremos reinar com retidão para o benefício e felicidade do povo de Sião”.

Carregando em seu peito que o dever da Coroa era servir ao seu povo, após sua ascensão ao trono, o monarca se dedicou a visitar todos os lugares possíveis de seu país, e verificar junto à população, quais problemas enfrentavam. Era frequentemente visto navegando rios ou escalando montanhas para chegar até o povo.

As pesquisas de Bhumibol levaram à criação de aproximadamente 4 mil projetos de desenvolvimento. Dentre eles, se destacam: utilização de práticas de plantio sustentáveis para populações que viviam em tribos nas montanhas; novas técnicas para reverter os efeitos da erosão do solo; melhoria do manuseio da água; geração de energia renovável a partir do óleo de palma; substituição do cultivo do ópio (no coração do que é conhecido como Triângulo Dourado) por programas de lavouras de cultivo de produtos como morango, café, macadâmia, flores, frutas e vegetais, o que deu aos produtores uma renda estável e digna.

A política implementada pelo seu governo tendo como prioridade a preservação ambiental foi reconhecida internacionalmente. Bhumibol recebeu, em 2006, um prêmio das Nações Unidas pelo seu trabalho em prol dos pequenos produtores rurais, do desenvolvimento de novas tecnologias de plantio mais correto à geografia do país e do manuseio adequado de água para lidar com os períodos de seca e de enchente.

Outros prêmios como o Prêmio da Paz da Associação Internacional de Presidentes de Universidades em 1986, a Medalha de Ouro ao Mérito do Programa Ambiental das Nações Unidas em 1992 e a Placa Comemorativa da Organização Mundial da Saúde em 2000 ilustram o espírito público do Rei da Tailândia.

No Brasil, estamos criando e fazendo enraizar em nossa sociedade uma cultura nociva. Estamos acreditando que todos os políticos sãos corruptos e todas as elites são nefastas e não pensam no povo. Isso não é verdade e, se vencer essa ideia, vai acabar com nossa democracia e certamente colocará o Brasil no rumo dos países que não deram certo, que andaram para trás.

Sempre cito meu pai como político virtuoso, honesto e cheio de vontade de fazer o bem. Faço isso pelo amor que sinto por ele e pelo orgulho de tê-lo como meu símbolo político. Ele tem a força do exemplo. Junto dele tivemos inúmeros políticos assim no Brasil.

Nossos monarcas e muitos dos presidentes da República, muitos governadores e destacados parlamentares constituíram as elites políticas que honraram o país e nosso povo. Alguns seguiram outro caminho. Fizeram da política o meio de enriquecimento e enlamearam nossas instituições. Mas esses nunca foram a maioria.

Hoje, a sensação que se tem é que são a maioria. Não são! Mas os malfeitos são tão grandes e se espraiam por todos os Poderes que a impressão que temos é de que não há mais jeito. Há sim! Tem que haver. O Brasil é um país que, como a Tailândia, tem uma natureza exuberante, um povo digno e uma economia que tem um potencial inigualável. Só precisamos de gente como o monarca Tailandês, que catalise as ideias que estão perto da gente, as coloque em movimento e faça nosso povo trabalhar.

Muitas pessoas com quem converso dizem não ter esperança. Bons líderes sempre trazem esperança, mesmo nos momentos mais difíceis. Lembremos de Winston Churchill, que foi primeiro ministro da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial. Soube exigir os mais duros sacrifícios de seu povo, mas sempre levava esperança e a certeza da vitória.

Esse tempo de crise (que não é só do Brasil) não permite que a gente baixe a cabeça e pense em derrota. Não! Nada disso. Precisamos de projetos, dos mais simples aos mais sofisticados, que coloquem o país em rumo do desenvolvimento e da produção de riquezas.

Vicente Vuolo é economista e cientista político.


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