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O legado da transparência

É muito comum, em especial no Brasil, quando um político de oposição chega ao poder em cargo executivo, ele menosprezar os projetos e obras deixados pelo antecessor, dar ênfase aos supostos defeitos das gestões anteriores, propalar que está auditando contratos e preparando dossiês e anunciar que, a partir dali, tudo será diferente e melhor.

O político, no sentido rasteiro do termo, sente a necessidade, no que é apoiado por seus pares, de querer “deixar a sua marca”. Para isso, muda logomarcas e slogans, troca as cores de escolas e meios-fios, despreza os melhores servidores públicos para colocar em seus lugares alguém “de confiança” e, o que é pior, há governante que interrompe obras essenciais só para que não tenha que dar o crédito devido a quem o antecedeu.

Esse tipo de “costume” não é novo e nem vai acabar tão cedo – para prejuízo dos cofres públicos e descrédito da própria classe política.

Entenda-me bem: mudar logomarcas e slogans, iniciar novas obras com novos padrões de cores, desde que obedecendo ao princípio da economicidade, nem acho que sejam medidas prejudiciais ao cidadão ou contribuinte – apenas nos informam sobre o quão vaidoso é o governante de plantão.

O que, a meu ver, nenhum político tem o direito de fazer diferente, a não ser que seja para aumentar, é o nível de transparência de sua gestão. Retroceder nesse campo é inaceitável.

Se muitos políticos ainda não entenderam o momento em que vivemos, os cidadãos brasileiros já foram às ruas para mostrar: ninguém aceita mais gestões que escondem números e nomeações, que não abrem orçamentos, não prestam contas ou, na surdina, privilegiam grupos políticos ou empresariais.

Hoje, a imprensa, os órgãos de controle e o Ministério Público estão atentos a cada centavo que entra nos cofres públicos, seja dos Municípios, dos Estados e da União – e acompanham o caminho do dinheiro até o seu destino graças a mecanismos que foram sendo implantados gradativamente nos últimos exatamente em razão dessa pressão popular saudável.

Caminhamos para um futuro em que a maioria dos políticos vai perceber que a transparência é uma das maiores aliadas da administração pública, pois ela inibe a corrupção, ajuda a justificar a escolha de prioridades e permite um planejamento mais preciso, na medida em que vai criando séries históricas dos mais diversos indicadores de eficiência.

Se o governante quiser de fato deixar uma marca que valha a pena ser lembrada, que primeiro tome a decisão de fazer um mandato transparente. Enquanto essa cultura não se entranhar de vez na gestão pública, será preciso continuar cobrando. Retroceder não é possível.

Marcelo Bussiki é auditor do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT) e vereador de Cuiabá.


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