Houve uma mudança de rumos na política do Brasil depois do fracassado governo do PT que faliu os estados e a União. Percebe-se uma acentuada inclinação à direita, sinalizada pelo insucesso dos partidos como PSOL, PC do B e PT nas últimas eleições municipais.
Nos últimos anos a ideologia de esquerda que comandava o país tentou imitar a Suécia na concessão de benefícios sociais. Esqueceu-se, entretanto que não é possível distribuir dinheiro que não existe e o resultado foi um estrondoso rombo nas contas públicas que demandarão anos de penúria para serem recompostas. Um passo ou dois à direita são oportunos e bem vindos, mas as mudanças costumam ser traumáticas porque há uma propensão de exagerar a dose, ministrando mais remédio que a necessidade do doente.
Vejo com preocupação duas tendências no espectro político que estão crescendo. A primeira é a direita extremada, representada no país pelo deputado Jair Bolsonaro e seus admiradores, agora estimulada pela vitória do destemperado garanhão midiático eleito presidente dos Estados Unidos. A outra é a busca do poder político das igrejas pentecostais e neopentecostais.
Hoje a bancada da Bíblia no congresso nacional é talvez a segunda mais importante, perdendo apenas para a ruralista. Já escrevi em algum lugar sobre minha convicção de que, com o passar do tempo, a ciência enfraqueceria a fé e exemplos como da Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia, onde 60% a 85% da população não têm religião, seriam seguidos por outros países.
Claro que errei, principalmente em relação ao Brasil onde as religiões prosperam em franca desordem. Aqui temos um agravante que é a extrema direita aliando-se com os neopentecostais na costura de um projeto político com grande chance de sucesso. Há poucos meses o deputado Bolsonaro foi batizado no Rio Jordão, em Israel, em uma cerimônia politico-religiosa sinalizando a união dos evangélicos com a bancada da bala, a que ele pertence. Vinte e cinco por cento da população brasileira são de evangélicos e há uma projeção que em 2040 ela superará o número de católicos.
Acrescente-se que o segmento que mais aumenta é o dos neopentecostais, aqueles que acreditam em um Deus pessoal que cuida de sua vida, saúde, emprego e relacionamentos. Não é difícil enganar estes crentes que buscam recompensas imediatas. Líderes “talentosos” com poderes autoconcedidos de distribuir essas benesses estão por toda parte.
Bispos poderosos como Edir Macedo e R.R.Soares, missionários televisivos do nível do Valdemiro Santiago e políticos de extrema direita, todos donos incontestáveis da verdade e com acesso crescente aos meios de comunicação, têm grande chance de comandar o país no futuro próximo. Creio que eles vão se unir com esse fim. Mas não me levem muito a sério. O caso do enfraquecimento da fé que previ e não aconteceu, mostra que sou um profeta que não merece crédito.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor renato@hotelgranodara.com.br