Vive-se em período de campanha eleitoral. Candidatos e seus cabos eleitorais estão nas redes sociais, nos horários políticos-eleitorais e em encontros, que eles chamam de reuniões nos bairros. Bairros, os quais muitos deles jamais passaram ou pensavam em passar, bem como em algumas ruas, e a darem as mãos para quem, em tempos outros, não dariam, nem abraçariam, como fazem agora, sob a cantilena de ‘contamos com seus apoios’ ou ‘contamos com seus votos de confiança’. Neste particular, não ocorreu mudança alguma em relação às eleições passadas. Mas, nem por isso, se deve dizer que as eleições são sempre iguais. Não são. Ainda que sejam sempre marcadas por ataques pessoais e por um rosário de promessas. Rosário de promessas que se repete também neste ano em todos os municípios brasileiros. Porém, nem todos eles registram ataques pessoais. São os casos de noventa e sete deles, cujos eleitores de cada uma delas deverão ou não votar num único candidato a prefeito.
Dois destes municípios se encontram no Estado de Mato Grosso: Nova Mutum e Nova Xavantina, cujos atuais prefeitos concorrem à reeleição, sustentados – separadamente – por coligações de quase todos os partidos existentes nas cidades. Nova Xavantina, aliás, é uma das nove cidades mato-grossenses em que o PT/PMDB/PSDB estão juntos em uma mesma aliança.
Aliança que não se repete em Lucrécia – no Rio Grande do Norte. Mas também neste município, só se registrou um único candidato a prefeito. Além disso, este município é o único do país (2016) onde apenas nove pessoas disputam as cadeiras da Câmara. Detalhe: só existem nove cadeiras. Isto significa dizer que todos os candidatos serão eleitos, e não terão suplentes. Caso alguém deles venha a morrer ou a renunciar o mandato, o Parlamento local continuará os seus trabalhos com um número a menos, ou poderá preencher a vaga por meio de uma eleição suplementar, que deve ser solicitada a Justiça Eleitoral.
Cabe também outra explicação: para ser eleito, o candidato precisa tão somente obter um voto (o seu próprio claro!). Mas, ‘e o chamado quociente eleitoral, não prevalece?’ Indagaria o (e) leitor. Acontece que neste caso, não se leva em consideração ao chamado quociente eleitoral.
Por outro lado, cabe acrescentar mais um dado sobre a eleição de vereadores em Lucrécia. De seus nove candidatos, seis deles concorrem à reeleição e três estão na disputa pela primeira vez, ocupando as vagas de parentes – um do pai e os outros dois de irmãos. E isto, no entender do (e) leitor mais atento, configura uma ‘prática coronelística’. ‘Prática nos moldes do que se teve no país até meados do século XX’ – completaria outro (e) leitor. ‘Prática que ainda permanece nos dias de hoje’ – acrescentaria um terceiro. ‘Só que com uma nova roupagem’, complementaria um quarto, no instante em que um sexto diria: ‘nova roupagem, com o aproveitamento da tecnologia’. ‘Claro!’- reforçaria a voz corrente, enquanto o coro trataria de lembrar a todos: ‘no país, onde os mortos votaram, agora fazem doações para as campanhas eleitorais, tudo é possível’.
Assim, a campanha eleitoral prossegue em todo o país. Mas nos noventa e sete municípios não ocorrem o confronto entre oposição e situação, com o eleitorado tolhido da escolha. Até porque nem todos os votantes concordam com a chapa única para prefeito. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário. E-mail: lou.alves@uol.com.br