Como já falei sobre greve do funcionalismo público há poucos dias e agora implico com o abono paternidade do mesmo pessoal, alguém pode pensar que tenho em má conta estes trabalhadores. Ao contrário, estou certo de que os servidores da união e dos estados são a quintessência dos trabalhadores do país. Entretanto penso que eles poderiam produzir muito mais se soubéssemos aproveitar seus abundantes saberes e talentos.
Mas eles não têm culpa da incapacidade da administração pública e pelos privilégios que recebem. São os políticos que no desespero de garantir mandatos vão concedendo favores para essa classe, na esperança de receber votos em troca. Todo trabalhador gostaria de ter as vantagens dos funcionários públicos: abono assiduidade, promoções tri anuais, licenças prêmio, aposentadoria integral e bons salários.
O problema é que não há dinheiro suficiente para atender tamanha demanda. Este artigo vem a propósito da recente proposta na assembleia legislativa de Mato Grosso de conceder mais privilégios aos servidores do estado, estendendo para eles o benefício já concedido para os funcionários federais, passando para 20 os atuais 5 dias de licença paternidade. Vejam como o legislativo brinca com o dinheiro do povo.
Como alguém precisa pagar a conta, os custos dos privilégios concedidos serão repassados à sociedade na forma de contratação de mais funcionários para gerir a máquina pública. Defensores do “estado de bem estar social” argumentarão que nos atuais dias de busca pela decantada “qualidade de vida” a tendência natural seria trabalhar menos. A ideia do ócio é ótima, desde que haja dinheiro para bancá-la. Como somente o trabalho consegue gerar recursos, privilégios concedidos a alguns certamente farão falta ao conjunto.
Não é justo que uns tenham que se esforçar mais para que outros possam trabalhar menos. De mais a mais vejo com estranheza essa necessidade dos homens ficarem 20 dias fora do trabalho após a nascimento de cada filho. Se houvesse essa exigência afetiva os empresários, profissionais liberais e autônomos ficariam em casa ajudando na criação dos filhos, posto que não tem obrigação com horários rígidos.
Na realidade os advogados continuam a atender em seus consultórios, os médicos consultam seus pacientes e os fazendeiros não deixam de administrar suas propriedades. Embora muitos ajudem a companheira nos primeiros dias, conseguem, com algum esforço extra, conciliar o trabalho com a paternidade recente. Também os funcionários privados só tem 5 dias para organizar a vida com a chegada de mais um na família e o fazem sem dramas ou traumas. Sugiro uma limitação à lei dos 20 dias de folga para os homens.
Para ter direito ao benefício os funcionários deveriam concordar em ser monitorados por uma pulseira eletrônica ( notem que usei um substituto para tornozeleira) . Esse equipamento seria programado para permitir a ida do novo pai somente ao supermercado mais próximo, à farmácia do bairro e ao pediatra. Assim ele ficaria impedido de frequentar botecos, jogos de futebol ou de inventar uma pescaria nesse período de “reclusão”.
Acho que 90% deles recusariam o benefício, convencidos de que “resguardo” e coisa pra mulheres. O último parágrafo é apenas uma tentativa malsucedida de fazer graça.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor renato@hotelgranodara.com.br