O Brasil é um país com profundas raízes latinas, trazidas pelos colonizadores portugueses e espanhóis (só se fala dos portugueses, mas boa parte da região Sul e Sudeste teve forte presença espanhola até o século XVIII) e reforçadas pela imigração dos trabalhadores italianos e de outros povos.
Mas, nossa latinidade torna-se única e fortalecida quando percebemos a contribuição negra e indígena à nossa cultura (até o início do século XIX a língua mais falada no país era o Tupi).
Esse gigante pluricultural, que se formou de uma mistura de português, de negro, de índio, de italiano, de sírios, libaneses, japoneses… está umbilicalmente unido a outros povos ou nações que se tornaram irmãos por um desenvolvimento histórico comum. Esses povos habitam hoje as Américas Central e do Sul.
Um belo exemplo dessa afinidade está na música. A Orquestra de Ouro Preto, que já gravou Beatles, Alceu Valença, Vivaldi, Bach e Mozart percebeu que é com brasileiros e latino-americanos que ela chega ao mercado da música instrumental internacional.
“Latinidade: música para as Américas” é um disco recheado de singularidade e emoção. Gravado na Igreja São José dos Homens Pardos Bem- Casados – lugar de acústica perfeita – e com repertório representativo da música realizada no continente latino-americano, o álbum sai pelo selo Naxos, o gigante da música erudita internacional, dono do maior catálogo do gênero no mundo.
A latinidade não é uma raça latina. A sua principal característica é a pluridade, o pluralismo cultural e a miscigenação.
Nela, o povo expressa sempre a sua paixão ao executar algo. Essa é a diferença principal. A alegria da música contagiante, o prazer em receber as pessoas, o calor das emoções, o amor as raízes.
Cuiabá está prestes a viver um momento ímpar de latinidade, onde poderá externar todo o seu encanto pela integração dos povos latino-americanos.
É a reunião do Parlatino (Parlamento Latino Americano), que acontecerá no início de agosto na capital mato-grossense.
O governador Pedro Taques percebeu que a posição de Centro Geodésico da América do Sul não pode ficar só no papel.
Cuiabá precisa, de fato, ser reconhecida internacionalmente como a ligação aérea mais próxima dos países sul-americanos e do Pacífico.
O Parlatino é uma organização parlamentar de toda a região, é integrada pelos Parlamentos Nacionais da América Latina, eleitos democraticamente mediante sufrágio popular, cujos países subscreveram o correspondente Tratado de Institucionalização no dia 16 de novembro de 1987, em Lima no Peru.
O Parlatino foi constituído no dia 7 de dezembro de 1964 na cidade de Lima (Peru), após um longo debate sobre a necessidade de integração regional desde a metade do século XX.
O Parlatino surgiu no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (ALADI). Contudo, é um órgão independente desta instituição.
É um órgão supranacional em permanente construção, como nosso continente latino-americano.
Poderá se transformar, no futuro, em algo próximo ao Parlamento Europeu, ou até mais importante que ele.
A reunião em Cuiabá não pode passar desapercebida pela sociedade cuiabana e nossas organizações sociais e políticas.
Sei que saberemos receber muito bem os parlamentares e funcionários que darão corpo a essa reunião.
Colocar na agenda internacional é um desafio que pode repercutir muito positivamente para o desenvolvimento econômico, social e cultural de nossa região.
VICENTE VUOLO é economista, cientista político e analista legislativo do Senado Federal.
vicente.vuolo10@gmail.com