Eu planejei cada momento da minha gestação: fiz todos os exames preparatórios para engravidar, tive acompanhamento da minha obstetra durante todo o pré-natal, fiz todos os exames da forma correta e, fora um ou outro problema que tive durante a gestação, foi da forma da qual eu programei.
Desejei ter meu bebê nos braços e fisicamente estava totalmente preparada. Porém, ninguém me disse que eu também precisaria me preparar psicologicamente para a maternidade. Meu pós parto foi bem difícil, bem diferente da forma que sempre imaginava.
Cerca de 60% das novas mães passam por uma forte melancolia após o parto, que é internacionalmente conhecida como Baby Blues ou Blues Puerperal. No Brasil, estima-se que 40% das parturientes desenvolvem a Depressão Pós-Parto, sendo que 10% a apresentam em sua forma mais severa. Infelizmente é uma doença séria, grave, que pouco se discute e que é mais comum do que se parece.
Afinal, o que é a Depressão Pós-Parto? É uma forma de depressão que afeta mulheres após ter dado à luz a um bebê. As mudanças que a nova mãe enfrenta logo após o parto, como a alteração de hormônios, faz com que ela se veja mais irritada, melancólica e com crises de choro. Os sintomas são parecidos com o Baby Blues, que geralmente tem início poucos dias após o parto causando tristeza, preocupação, nervosismo e vontade de chorar mas que duram poucos dias.
Na depressão esses sintomas são mais intensos e perduram por mais tempo. Há casos em que os sintomas da doença apareçam semanas após o parto.
Estudos recentes relatam que cerca de 25% dos pais apresentaram sintomas da doença, sendo possível que eles também sejam afetados.
Pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, a depressão pós-parto é um subtipo de depressão maior e para ser diagnosticada como tal, os sinais e sintomas devem se desenvolver dentro de quatro semanas após o parto.
Não existe uma causa específica para a doença; acredita-se que a queda brusca dos hormônios estrogênio e progesterona pode ser um fator do quadro da depressão, assim como se sentir menos atraente ou sentir que perdeu o controle da sua vida, além de estar privada do sono devido aos cuidados com o recém-nascido ser considerada causas possíveis.
São sintomas comuns na Depressão Pós Parto:
– Sentimento de tristeza ou desespero constante;
– Perda de interesse ou não sentir prazer na maioria das atividades diárias;
– Sentimento de culpa;
– Desânimo e cansaço extremo;
– Pouco interesse no bebê;
– Incapacidade de cuidar de si e do bebê;
– Medo de ficar sozinha;
– Falta/aumento do apetite;
– Insônia;
– Baixa auto-estima;
– Desinteresse sexual;
– Aumento na ansiedade.
Um sintoma que particularmente é grave na Depressão Pós-Parto é pensar na morte e suicídio, além de que algumas mulheres apresentam vontade súbita de prejudicar o bebê.
Apresentar um ou outro sintoma vez ou outra não indica que você tenha a doença, já que a maternidade por si só é uma mudança no estilo de vida da mulher e que pode ter altos e baixos. Caso tenha com frequência vários dos sintomas citados, procure orientação com seu ginecologista ou procure ajuda de um médico especializado.
Apresentei os sintomas no terceiro dia de vida do João Pedro, quando tive uma crise de ansiedade muito forte. Não conseguia dormir desde o dia no nascimento dele, não me alimentava e a sensação que tinha era que não conseguia fazer nada. O choro era constante, desânimo até mesmo para escovar os dentes. Mas, de todos os sintomas que tive, não querer ficar com meu filho e dizer que não o queria foi o pior de todos. Minha família me ajudou desde o começo, levando-me rapidamente para um psiquiatra, onde pude começar logo o tratamento.
Apesar de não ter uma causa específica, especialistas afirmam que existem situações que parecem aumentar o risco da mulher desenvolver a doença, como ter passado por uma depressão anteriormente (pós-parto ou não), falta de apoio da família, parceiro e amigos, estresse, problemas financeiros ou problemas familiares ou depressão durante a gestação;
O tratamento da doença poderá ser feito com o uso de antidepressivos compatíveis com a amamentação, já que a maioria deles passam para o leite materno, razão pela qual se deve procurar um médico especializado. O melhor a ser feito é combinar o uso da medicação com a terapia.
Ter procurado ajuda imediata me ajudou muito a reduzir os sintomas. A medicação que me foi prescrita demorou cerca de três semanas para fazer efeito. Porém, mesmo resistente à terapia, fui convencida a começar e foi excelente para o meu tratamento, pois as mudanças começaram a aparecer gradativamente.
A imagem de uma maternidade perfeita é o que mais as pessoas irão mostrar. Realmente, ser mãe é lindo, um amor fora do normal, mas que não acontece imediatamente quando o bebê nasce. Você e o bebê são estranhos e estão se conhecendo, um adaptando à rotina do outro. Portanto, esqueça a imagem de comercial de margarina e viva a sua experiência. Palpites podem ser bem-vindos, mas confie primeiramente no seu instinto; esse sempre será melhor.
Muitos consideração a depressão uma “situação passageira” que a pessoa enfrenta e que não necessita de cuidados. Porém, ela é uma doença e precisa ser cuidada, pois caso contrario, poderá interferir no vínculo mãe-filho e causar problemas familiares. Filhos de mãe que tiveram depressão pós-parto não cuidada são mais propensas a desenvolver problemas de desenvolvimento, como dificuldade para dormir ou comer e hiperatividade. Quanto mais cedo o diagnóstico e tratamento, mais eficaz e duradouro o resultado.
Caso tenha alguma dúvida, não deixe de procurar ajuda com o seu ginecologista ou um médico especializado.
Luciana Emely é dona do blog Recém Mãe.