Até às próximas eleições presidenciais, é indispensável que o Brasil retirar da cena política e da administração pública um vasto conjunto de pessoas que, ao longo de demasiado tempo, se têm mostrado incapazes de produzir as transformações socioeconômicas que o país necessita.
Cristalizados em cargos de responsabilidade governativa a sua inoperância os qualifica como forças de bloqueio a esse mesmo desenvolvimento.
E não menos grave revelam-se também eticamente reprováveis pela prioritária procura de benefícios próprios e criminalmente condenáveis por recorrente recurso a atos ilícitos bem organizados e transversais a todos os poderes, sem exceção.
Como país emergente, o Brasil assemelha-se a um jovem na transição para a idade adulta. Encontra-se numa fase de intensa afirmação e enorme animo para decidir o seu trajeto.
Porém, mesmo com espasmos nos órgãos ou fantasias de percurso intrínsecos da rebeldia adolescente, o momento requer total preservação de princípios (soberania e democracia) e foco em superiores objetivos (redução das desigualdades e ampliação das oportunidades) a bem da vida.
Soberania é uma liberdade singular e plural e a democracia um exercício de constante procura e construção de alternativas ao horizonte desejável que, igual aos direitos, só se protegem lutando por mais.
O ideal, o real, a cultura e a interpretação política da sociedade nega-me aceitar a inevitabilidade do capitalismo financeiro globalizado. A globalização não é social e os cidadãos não habitam em nuvens virtuais.
O mundo aceitou, mas não aceita mais a escravatura. Hoje, mais de metade do mundo também já não aceita diversas outras formas de submissão ou privação. E uma boa parte dele começa a se preocupar seriamente com o planeta.
Aos poucos, a humanidade vai-se melhorando numa caminhada que a cada dia atrai mais participação e estimula posição.
Porém, estou de saco cheio de ouvir que o Brasil é um país atrasado. Não existem países, nem rios, nem montanhas atrasadas. Não existem cidades e muito mesmo pessoas concluídas.
É importante não esquecermos que no dia de hoje, nos países ditos mais desenvolvidos no norte da Europa, discute-se nas assembleias e luta-se em praça pública para melhorias de vida.
A transformação social e individual brasileira é possível e está em curso, doa a quem doer. Mulheres mais afirmativas, jovens mais conectados, minorias que se escoavam nas franjas da sociedade, fazem-se agora igualmente ouvir.
Dentro dos poderes, novos e jovens interpretes introduzem outras formas de atuar diferentes dos velhos maus hábitos de fazer as coisas. No entanto, estou de saco cheio de lideres educadores de massas que desvalorizam o trabalho de grupo, participado e inovador.
De saco cheio de políticos que isentos de saber e arte se propõem completamente desprovidos de coragem. De saco cheio das belas pregações recatadas no lar. Tem algo mais cativante que um ser interessante, inteligente e independente?
O Brasil precisa dar uma pequena/grande arrumação até outubro de 2018. O atual processo de impeachment e as eleições municipais de 2016 são processos importantes pelos quais passaremos com as devidas conseqüências.
Contudo, o combate há corrupção com acusação e defesa de pessoas concretas em simultâneo como a indignação expressa dos cidadãos, isso não pode passar nem terminar.
É primordial para uma evolução saudável. Até lá, não necessitamos de escolher ideologias como quem opta a gosto entre cerveja e vinho.
Precisamos, sim, discuti-las muito. Devemos parar de ficar confinados na mercantil “livre escolha” entre déficit e sondagem e colocar de lado a palavra “inevitável” que tanto receio nos trás a encetar caminhos.
Necessitamos todos de crescer junto com o Brasil.
RUI PERDIGÃO é administrador, consultor e presidente da Associação Cultural Portugueses de Mato Grosso.