Tem-se início a terceira e última fase do processo de impeachment. A presidente já se encontra afastada temporariamente das funções da chefia do governo.
O Michel Temer assumiu essas funções, tendo o seu próprio ministério, formada de nomes saídos dos partidos que são a favor do impeachment (uma espécie de pagamento pelo apoio e pelo voto).
Ao contrário do sentido real da palavra interinidade e do procedimento adotado em 1992 pelo Itamar Franco que, corretamente, preferiu não trocar os ministros durante toda a suspensão temporária do Fernando Collor de Mello da Presidência da República.
Detalhe que precisa ser dito, até para se evitar que verdades sejam substituídas e o achismo no lugar da fundamentação dos posicionamentos com relação ao impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Processo que nada tem a ver com golpe. Este, na verdade, não passa de instrumento meramente de retórica nas falas dos que se posicionam contrários ao impeachment.
Erro estratégico cometido, inclusive, por José Eduardo Cardoso na defesa da presidente. Ele ignorou o aspecto técnico-jurídico. A abordagem técnico-jurídica poderia colocar em xeque muitas das afirmações dos acusadores.
Ainda que não conseguisse derrubar as teses das chamadas pedaladas fiscais e dos decretos não autorizados pelos congressistas. E não conseguiria mesmo.
Mas, por certo, conquistaria mais simpatizantes à causa de defesa da presidente. Embora quase a totalidade dos parlamentares federais não tenha lido o conteúdo do documento apresentado por Hélio Bicudo, Janaina e Realle Júnior.
A não leitura, então, deduz-se que não houve discussão sobre o conteúdo do pedido pelos ditos juristas nas comissões especiais de análise do impeachment na Câmara Federal e no Senado.
Seus integrantes debateram sobre as pedaladas e sobre os seis decretos a partir do que leram na imprensa, do que ouviram pelos programas radiofônicos e televisivos e do que falaram os convidados nas referidas comissões.
A cobertura dos veículos de comunicação foi muito superficial, exceto uma ou outra publicação que chegou a ter alguma profundidade, e até os juristas autores do pedido desviaram do teor do impeachment quando participaram das sessões.
Situação identificada por todos os brasileiros que assistiram às sessões das comissões. Bem mais por aqueles que leram o dito conteúdo. Tanto que as falações registradas quase nada diziam a respeito dos crimes de responsabilidade.
Diferentemente, porém, do que se pode ler no relatório do deputado Jovair Arantes e o do senador Antônio Anastasia, cujos conteúdos igualmente não foram lidos pela imensa maioria dos senadores.
Certeza que se tem a partir do acompanhamento dos discursos proferidos na sessão de quarta-feira (11/05), que terminou na manhã do dia seguinte (12/05).
Este é um dos pontos negativos do atual processo. Negativo porque ninguém discute sobre o que não conhece com profundidade.
É a mesma história do aluno que só se posiciona no final de uma discussão sobre um dado texto, com o fim de juntar trechos pronunciados por todos os seus colegas, os quais, de fato, fizeram a leitura exigida.
É isto.
LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e analista político em Cuiabá.
lou.alves@uol.com.br