O exterior ficou estarrecido com a notícia da anulação, e depois o recuo na decisão, da votação na Câmara sobre o impeachment da presidente Dilma.
É mais uma patacoada da América Latina que serve de chacota mundo afora.
E quando olham para cá é de forma global, não separam país por país.
O Brasil, até um tempinho atrás, estava sendo visto como um país que poderia escapar desses estereótipos sobre a região, voltamos para o lugar comum.
Lugar comum como aquele de Nicolás Maduro dizer que o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chaves, apareceu para ele em forma de um passarinho.
Ou aquela do mesmo Chaves na ONU, ao falar logo depois de George Bush, fez uma pantomina de que ali fedia enxofre e que acabara de falar um demônio.
Ou de um presidente da Guatemala que queria continuar no poder e pediu um plebiscito em que as pessoas ao votarem deveriam deixar até a impressão digital. Teve algo com 97% de aprovação para ficar.
A palhaçada do presidente interino da Câmara vai entrar para os anais de coisas anômalas que ocorrem no Brasil. Vou entrar por dois deles.
O caso Collor de Mello é um. Se não estou enganado um autor australiano escreveu um livro sobre o que aqui aconteceu como se fosse num país imaginário. Parecia ficção para o leitor, mas era o caso brasileiro.
Um dia, o irmão do Collor, Pedro, gravou nos estúdios da televisão da família em Maceió um ataque ao presidente da República. Isso foi mostrado pela revista Veja numa matéria bombástica com o título Pedro Collor Conta Tudo.
Contava a corrupção do irmão e do PC Farias.Contou que o irmão cantara sua esposa e que o induzira a usar cocaína quando estudavam em Brasília. Fez um escarcéu.
Dona Leda Collor, mãe dos dois, o demite das empresas da família e diz que o filho estava abalado emocionalmente.Pedro foi a um psiquiatra e, seguido pela imprensa, sacudia no ar um atestado mostrando para todo mundo que não era louco.Coisa de romance.
Getúlio Vargas em 1954 estava com problemas políticos e econômicos enormes. Tinha um adversário ferrenho no jornalista da UDN Carlos Lacera. Um dia, na rua Toneleros no centro do Rio, tentaram matar o Lacerda. Levou só um tiro no pé e o major Vaz da Aeronáutica que o acompanhava foi morto.
Logo pegaram os pistoleiros e se soube que fora uma armação de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do Getúlio.
O presidente não tinha nada com aquilo, mas o fato fez a situação política ficar insustentável. Para não deixar o governo pela porta do fundo deu um tiro no peito.
Como é que o Gregório pratica um ato daquele, às claras e num lugar movimentado, num momento totalmente adverso para seu chefe? Se mata o Lacerda seria até pior. Pastelão puro, próprio da América Latina.
A cena montada pela besta quadrada do Maranhão na Câmara é outra que enodoa a região.
ALFREDO DA MOTA MENEZES é historiador e analista político em Cuiabá.
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