A situação econômica do país é bastante grave, e parece não existir medida ou iniciativa que possa debelar a crise, a qual atinge a todos.
E não existe mágica capaz de tirar, da noite para o dia, o Brasil e seus habitantes do quadro de complicações.
Só há, então, uma certeza: a crise econômica diminui o mercado, desvaloriza o real e subtrai o poder de compra da maioria da população; enquanto a crise política paralisa a democracia, empobrece a discussão e judicializa a política. E isto é um problemão, não a solução.
Problemão porque a judicialização da política traz consequências desastrosas, e entre estas o quebrar do respeito à independência de um dos poderes. Ainda que este processo, o de judicializar, denuncie, e só ocorre em razão da omissão das Casas Legislativas.
O trágico de tudo isso, vale dizer, é perceber que os ditos representantes do povo estão bem mais preocupados com postos e com os espaços para ampliarem seus próprios poderes de barganha no jogo. Isto fica bastante claro no episódio de Eduardo Cunho.
Este, tão logo, foi afastado da presidência da Câmara Federal, partidos e políticos já passaram a se movimentar no sentido de conquistar a presidência da Casa.
Waldir Maranhão (PP), substituto imediato de Cunha na direção da Câmara Federal e o único membro da Mesa a votar contra o impeachment, fora aconselhado a ter prudência no trato com as raposas da política.
Neste exato instante, o vice-presidente Michel Temer já iniciava conversas com seus parceiros a fim de encontrar um meio para provocar a eleição para o novo presidente da Câmara Federal.
O próprio PMDB tem interesse nessa briga, até para não deixar escapar pelos dedos o dito posto, a exemplo do que ocorreu, por exemplo, na eleição de Severino Cavalcante (PP/PE), no dia 15 de fevereiro de 2005.
Severino era ligado ao chamado baixo clero, e foi eleito com 300 votos dos 498 deputados presentes, em função do racha dentro do PT.O que terminou na maior derrota do governo Lula da Silva no Congresso Nacional.
O candidato oficial, Luiz Eduardo Greenhalgh, só obteve 195 votos, menos que os 207 conquistados no primeiro turno (eram cinco candidaturas), realizado três horas antes do segundo turno.
Afastado, Eduardo Cunha igualmente se encontra atento a essa manobra, e defende a eleição de um parlamentar de seu círculo de amigos, ou o Rogério Rosso (PSD/DF) ou o Jovair Arantes (PTB/GO).
Já o PSDB pensa unicamente em seus próprios quadros. Há até uma conversa preliminar com o Michel Temer, em busca de um acordo, no qual o eleito para a direção da Câmara Federal seja evidentemente um tucano, e entre o mais cotado estaria o Antônio Imbassahy (PSDB/BA).
Percebe-se, (e) leitor, que para defenderem seus interesses, os políticos têm iniciativas, força de vontade e disposição para o diálogo.
O triste, porém, é saber que essa mesma disposição, força de vontade e iniciativas não estão a serviço do país e dos brasileiros.
Faltam aqui, portanto, o amor cívico – tão bem defendido por Montesquieu, em seu ‘Espírito das leis’. É isto.
LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e analista político em Cuiabá.
lou.alves@uol.com.br