Aristóteles, o grande filósofo grego, já dizia que todas as pessoas precisam estar em comunidade para alcançar a completude e por isso, todo homem é naturalmente um Ser político que precisa por necessidade, expor suas ideias e defender suas opiniões. Estas, sem dúvida, são características fundamentais de um cidadão que foi lapidado por uma história de lutas, que participa ativamente da construção de uma comunidade politica soberana, capaz de ir as ruas defender seus direitos e afastar seu presidente. Tolir o cidadão de poder opinar sobre política é menosprezar o poder da opinião pública e impedir que ele julgue, os rumos de seu país, de acordo com a sua vontade.
Virou moda nos últimos meses falar de democracia e fascismo nos artigos e nas redes sociais. O problema não é de opinião mas sobretudo conceitual. Neste balaio de palavras, alguns cidadãos ou eleitos desvelam suas opiniões e se esquecem de que além de ser cidadão alguns são agentes públicos, portanto, um legítimo representante do povo, porta-voz da comunidade política que comunga direitos e deveres. Estes eleitos ora inventam razões e invertem conceitos. Fascista é quem venera o Estado em detrimento do seu povo, e tem profunda devoção pelo seu líder. Fascista é quem se esquece que democracia significa povo e é justamente na democracia que o povo detêm o poder soberano sobre os poderes. O deslize de um grande pensador como Humberto Eco em sua trajetória intelectual, não pode servir de referência para sustentar tamanha irresponsabilidade de imputar ao povo um ato imbecil ou idiota apenas pelo fato de agir politicamente expressando suas vontades e opiniões nas redes sociais. As vezes o agente público deslembra que democracia é um conjunto de princípios e práticas que protegem a liberdade humana, no entanto quem vota no congresso não é, e não pode ser o cidadão mas sim o seu representante.
Se o agente público agiu certo ou errado conforme suas convicções, uma coisa é certa; Deus não tem, nunca teve e nunca terá absolutamente nada a ver com isso. O novo agente público precisa aprender a conviver e aceitar as diferenças, até porque as mídias sociais nunca irão produzir um idiota, pois todo idiota já nasce pronto moldado pela indiferença e intolerância com o que as pessoas pensam. Admiro profundamente o filósofo Humberto Eco, mas nestes casos prefiro meu avô João Francisco de Arruda que certamente diria: Meu filho na vida tem hora pra tudo inclusive para ficar quieto, pois “quem fala demais da bom dia pra cavalo”.
Prof. Dr. Haroldo Arruda Junior é professor-doutor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).