Entrevista com um juiz de última instância da Itália, publicada na imprensa há poucos dias, traz desalento ao povo brasileiro.
A preocupação é que a Lava-Jato, inspirada na operação Mãos Limpas, siga o mesmo destino desta, que ficou incompleta, conforme afirma o magistrado.
A Itália é um país “padrão Brasil” de corrupção. Talvez até mais violento e assustador, pois lá moram a Camorra e a Cosa Nostra, áfias de fama e atuação mundiais.
São essas organizações criminosas que foram enfrentadas pela operação Mãos-Limpas na última década do século passado.
Segundo o juiz entrevistado, que participou da operação desde o começo, na época como promotor de justiça, o serviço ficou pela metade.
Passados o susto e a surpresa dos empresários e políticos presos, houve uma retomada da batalha pelos condenados e investigados, com o fim de anular punições e inviabilizar futuras condenações.
Hoje, se ainda não voltou o nefasto padrão anterior, está muito perto disso. Ficaram frustradas as expectativas de parte da população que acreditou em concretas mudanças no país.
Isso nos faz pensar que aqui no Brasil não será diferente. Aliás, já se percebe movimento querendo desprestigiar o Ministério Público Federal e Justiça Federal. O principal viés tem sido condenar a obtenção de provas através da delação premiada .
Qualquer pessoa com mínima informação sabe que o sucesso da Lava-Jato está diretamente ligado à delação premiada.
Foi ela que possibilitou ao ministério público iniciar todo esse processo que faz o país inteiro sonhar que um dia vamos diminuir a safadeza que já dura mais de 500 anos.
Estranhamente, a última pesquisa de opinião, divulgada pelo DataFolha, atesta uma diminuição no índice de aprovação ao juiz Sérgio Moro, hoje em 60% contra 80% dos meses anteriores.
Se quatro a cada 10 brasileiros comuns reprovam a atuação da Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal, mesmo diante dos extraordinários resultados apresentados até agora, parece lógico supor que está crescendo a torcida a favor dos bandidos.
O problema é que todos querem a Justiça atuando nos grupos adversários. Quando as investigações e prisões chegam aos seus partidários, a tendência é reagir.
O medo de acordar às 6 horas com a turma de preto à porta tem tirado o sono de muita gente e unido adversários políticos contra o perigo comum, representado pela Lava-Jato.
Não sou pessimista, mas vendo que já começou a desconstrução da nossa operação “Mãos-Limpas”, é previsível um fim semelhante ao da Itália.
Gente poderosa está investindo pesadamente na busca de fatos que desqualifiquem os policiais, promotores e juízes ou de erros burocráticos para “melar” a operação.
Há ainda uma ameaça mais concreta: o futuro presidente Temer cogita, como informam os jornais, colocar no Ministério da Justiça um inimigo declarado da Operação Lava-Jato e de seus operadores.
RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Cuiabá.