Como participante de um mundo que transforma o imaginário em real e vice e versa, indaga-se: a condição humana ainda busca a paz e felicidade?
Todos os dias nos jornais e ‘sites’ estamos a deparar com ações institucionais a debelar a corrupção, o exercício ímprobo de cargos públicos etc. Há olhos jornalísticos, aparentemente, voltados para qualquer movimentação de policiais ou agentes do Estado e até para ’adivinhações’ do momento de novas ’operações’.
Vive-se o ambiente de um ’big Brother’ da corrupção, onde já não se sabe se o inocente está sendo investigado ou se cuida de culpados investigados.Será que isso tudo é o chamado ‘passar o Brasil a limpo’ ou coisa parecida?
Não se pode caminhar e fazer a máquina estatal funcionar sob o terror. Homens e mulheres sérios, honestos e competentes, pensam duas vezes antes de assumir tal encargo. Imaginem uma contratação com dispensa de licitação, ainda que rigorosamente séria? Os órgãos de controle estarão ou não a desconfiar? Depois que o Google arquivar em seu banco de dados a suspeita, fez-se réu histórico.
Num mundo cada vez mais virtual, perdem-se os predicados humanitários, dentre eles não se olvida do direito ao esquecimento. Parece destino a que todos se sujeitam. É como ‘morrer’ estando vivo, tornando-se corriqueiro os psiquiatras a apagar a fogueira do pânico e da depressão.
Morrer antes do fim definitivo é o resultado do congelamento do pensar naquilo que já se pensou, ou nas palavras de Safranski sobre a morte do filósofo, ‘quando o passado triunfa sobre o presente e futuro, quando o pensado aprisiona o pensar’ (Heidegger, um mestre da Alemanha entre o bem e o mal).
É contraditório, por conhecer a condição humana e que muitos não se seguram diante da possibilidade e chance, a ação de controle faz perder a inocência, ingenuidade e liberdade, todas necessárias para a paz e felicidade.
Não se descobriu a fórmula, o equilíbrio, entre proposição e verdade.E na era digital é quase impossível, precisaria de um esforço educacional que reduzisse totalmente o analfabetismo, funcional ou não.
Diriam alguns, a consciência de cada um basta, ou, ainda, que quem não deve não teme, ou também outros tantos ditados que transformam tudo em vexame dialético, derrotando qualquer premissa ou argumento com um simples ’será?’.
A dúvida, cruel e que faz sangrar, transforma a objetividade em mentira, a ciência em ilusão.
E ainda se faz ouvidos moucos às palavras de um Salvador: ‘não julgueis para não ser julgado’, ou também, com a força com que julgas, serás julgado.
No julgar,na não contradição, só haverá prudência na ciência; de resto, são pérolas não aos porcos, mas dos porcos.
É por aí…
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é juiz de Direito em Cuiabá.
antunesdebarros@hotmail.com