O jogo político é um espetáculo, mesmo que um ou outro de seus lances seja levado para a decisão do tribunal.
E como todo espetáculo, tem seus atores, os quais dependem da opinião (que não é unânime) dos expectadores, e estes – embora desengajados das características particulares daqueles – são movidos pela aparência.
Daí a substituição do fato pela retórica, da verdade pela mentira. Independentemente disso, por outro lado, ocorre-se um julgamento, que é uma faculdade democrática, ao alcance de toda a população, no dizer de Emanuel Kant e de Hannah Arendt.
Mas é preciso, cabe repetir, neste julgar, a participação de todos, especialmente no caso atual, em que se vivem o Brasil e os brasileiros, com o uso das redes sociais e das ruas como locais e instrumentos de manifestação.
A manifestação popular é o mais marcante posicionamento político em um Estado democrático e de direito. E neste posicionar-se, a população se vê desmembrada em quatro grupos.
Nada contra. Até porque a democracia não se sustenta no discurso único, nem se dá no terreno fértil da uniformidade. Ser, portanto, natural à existência de posicionamentos diferentes.
Assim, o primeiro grupo, constituído pela imensa maioria dos brasileiros, contenta-se tão somente a ficar em silêncio, ser unicamente espectadora, com alguns de seus membros, vez ou outra, penderem para um lado ou para outro em conversas restritas no whatsapp, facebook, instagram e twitter.
Já o segundo grupo, em bem menor número, e que esteve nas ruas na sexta-feira passada (18/03), sai contra a cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff, ao mesmo tempo em que apoia o governo, o PT e o Lula da Silva, e de quebra desaprova por completo a atuação do juiz Sérgio Moro, da Polícia Federal e do Ministério Público.
O terceiro grupo, muito maior do que o segundo e infinitamente menor que o primeiro, ocupou as ruas no domingo (13/03), defende o impeachment, o ‘Fora PT’, o ‘Fora Lula’, bem como a diminuição da corrupção (pois o fim seria impossível) e aprova integralmente a atuação do juiz Sérgio Moro e de toda a sua equipe.
Por último, o quarto grupo – o menor de todos eles – faz severas críticas ao governo Dilma Rousseff, mas sai contra o processo de impeachment, e condena com igual intensidade quem advoga a cassação, sob a cantilena de que não houve crime de responsabilidade algum por parte da presidente petista.
No entender deste grupo, não se pode (será mesmo?) considerar crimes de responsabilidade: as pedaladas fiscais, a maquiagem das contas públicas, os empréstimos não autorizados pelo Congresso Nacional e realizados porque os bancos públicos não tiveram os repasses devidos do governo, o desrespeito a Lei de Responsabilidade Fiscal e a omissão diante dos enormes desvios de recursos da Petrobrás, com parte considerável deles inclusive para as campanhas eleitorais.
Neste particular, cabe observar, o quarto grupo se associa ao segundo, e, certamente por isso, os dois estiveram juntos na manifestação de sexta-feira (18/03), ocupando o mesmo espaço.
Independentemente da posição tomada por cada um desses quatro grupos, o importante é realçar a participação da sociedade. Participação necessária e imprescindível ao crescimento da democracia.
É isso.
LOREMBERGUE ALVES é professor universitário e analista político em Cuiabá.
lou.alves@uol.com.br
